segunda-feira, 10 de setembro de 2012

2º lugar com muito orgulho!

Por que uma bailarina com experiência internacional, reconhecida no mercado carioca como renomada formadora de outras profissionais, com 15 anos de carreira, produtora de grandes festivais e eventos dedicados ao desenvolvimento da dança oriental se juntaria à outras bailarinas, em sua maioria menos experientes, para concorrer em uma categoria do festival onde poderia possivelmente estar na banca julgadora?
Por que arriscar não ficar em 1º lugar? O que as pessoas diriam?! E o nome do studio? E a minha reputação?!
Já desde o início do ano que venho refletindo a respeito da máscara que vestimos em nome do marketing. Diversos acontecimentos me levaram a gritar: "Ei! Sabe o que é Nadja El Balady"? Um nome fantasia... vazio se não for o ser humano que o passa preencher. Assim como todas as grandes estrelas da Dança do Ventre ou da Dança Tribal. Assim como todas as grandes estrelas da Globo ou da Música. Assim como todas as grandes estrelas de Hollywood. Seres Humanos. Que mijam, comem, ficam doentes e estão em busca de realização e são carentes de reconhecimento e amor como todos os reles mortais. Somos todos iguais. Mesmo.

Enquanto Nadja - a bailarina - reconheço estar em um patamar ainda aquém de minhas possibilidades. Sei que posso muito mais, sei que posso ser melhor. Esta é a minha busca. Sempre foi. Ser melhor hoje do que fui ontem, seja como for. Um grande passo para isto - a maturidade me ensinou - é olhar para si mesmo sem a máscara. Reconhecer suas próprias dificuldades, e não ter medo delas. Não tentar esconder. Antes, continuar estudando, perguntando, buscando, treinando, aperfeiçoando - a técnica, a teoria, as emoções, o lidar com o outro.
Uma grande ânsia de crescimento me invadiu. E a vontade de estudar.
Quando soube que Raqia Hassan e Soraia Zaied seriam bancas da categoria Improviso do festival LuminaQamar 2012, quis muito que elas me vissem dançar. Desejei suas avaliações para minha melhora. (Estas duas dispensam legenda, não é? Se você nunca ouviu falar delas, uma palavra para você: Google.)

Soraia foi minha professora há muitos anos atrás, quando ainda não morava no Egito. Acho que há uns 10 anos ela não me vê dançar - continua sem ver, pois não consegui chegar a tempo do concurso, seu vôo atrasou.

Quis aproveitar esta oportunidade para estudar. Assisti muitos vídeos, acabei com o meu pé de tanto estudar as 12 músicas que poderiam cair no concurso.
Rotina Oriental, Om Kalsoum e solo de Derbake. Estes eram os gêneros musicais de cada fase do concurso. Cada um pede da bailarina uma interpretação diferenciada. E dentre os solos de derbake, ainda mais: Um era bem egípcio e pedia um quadril forte e ágil, ou outro, a meu ver, não... em vez, achei que pedia movimentação de impacto, explorando diferentes possibilidades para as células rítmicas que se repetiam... Neste solo optei por ir além e explorar diversas possibilidades técnicas como cambrês, braços, idas ao chão e  - por quê não? - breaks de Tribal Fusion. Uma vez tendo mostrado na Rotina Oriental e na Om Kalsoum meu feeling egípcio, porque não explorar um solo com minha personalidade única? Isto é... SE eu chegasse à 3ª fase.. SE caísse este solo....

E então,  Madame Raqia estava lá. Com a difícil tarefa de julgar sozinha.
Eu não estou habituada a concursos, fiquei bastante nervosa. E sim, passei por todas as fases do concurso, chegando à final. Fiquei bastante satisfeita com meu próprio desempenho. Feliz porque os anos de estrada me conferiram presença e projeção ao público além das minhas colegas de palco. Porque senti atingir pessoas sentadas do outro lado e que eventualmente poderiam estar olhando as outras moças, deslocarem sua atenção pra mim, no momento em que a música jorrava sobre nós a poesia de Inta Omri... Porque mesmo imersa na interpretação da música, eu tinha o ritmo, tinha a melodia e porque estava inteira com as pessoas no público... porque lembrei do meu amor e dancei para ele os últimos versos da música. Porque senti os aplausos me iluminarem por dentro, como acontece sempre que me sinto cumprindo minha missão na vida.
Fiquei muito feliz com meu solo de derbake, com minha criatividade e capacidade de improviso. Joguei beijinho no Tak do solo, quando as meninas gritavam meu nome, após ter arriscado os breaks de Fusion. Eu me diverti. Eu me superei. Eu fiz o que quis. Eu não tive medo. Eu encontrei a minha arte de novo.
É muito gratificante receber o apoio das amigas na platéia. Sei que muita gente torceu por mim e o mais importante: Gostaram mesmo do que viram. Este é o essencial. De resto... eu estava no lucro.

Madame Raqia Hassan após o primeiro dia de aula
A moça que ficou com o primeiro lugar é uma graça! E é dona de quadris muito ágeis e graciosos, que seguramente encantaram Madame Raqia. Tive oportunidade de vê-la dançar em outras ocasiões, inclusive a partir da banca de jurados. Ela é doce e talentosa, com certeza merece as boas colocações que tira em todos os concursos que faz! Ainda não tive acesso às minhas notas, mas arrisco dizer que deve ter ganhado por pouco, rsrsrsrs.... o que faz da disputada qualquer coisa mais emocionante!

Eu, Soraia e minha mãe
Quando Adriana Almeida disse meu nome no 2 º lugar não fiquei surpresa. Porque não achei que tinha obrigação de ganhar. Concursos são surpreendentes. Por mais imparcial que tente ser o jurado, ele está ali, no fim, para dar a sua opinião. O não? E mais... Imparcialidade é tipo do negócio que não se pede à Raqia Hassan. Eu não fiz força para agrada-la. Antes, ao meu público brasileiro que é o que me contrata! E que gostou do que viu... E mais... Soraia me entregou o prêmio e eu estava muito feliz em vê-la e tudo o que queria era abraça-la...

Turma do workshop de Shaabi, no dia seguinte do show
Minha verdadeira premiação veio no dia seguinte, quando em frente à uma turma inteira de alunas de peso Raqia me apontou e disse que eu havia sido a única que havia realmente dançado Om Kalsoum com sentimento na noite anterior. Que fiz um grande trabalho de interpretação, da maneira como se faz no Egito. Disse isto repetindo o que havia dito, após o show, para a Soraia em árabe, que me traduziu.

Senti então que tudo valeu... lucrei muito com esta experiência, acho eu. Talvez se eu tivesse ficado em 1º, sairia com o gosto de que não fiz mais do que a obrigação. Nada na minha vida é óbvio ou veio fácil. Tudo é sempre intenso e emocionante. E sempre tem uma grande lição por detrás. Meu objetivo  maior é o progresso espiritual, então, acho que a vida só está me dando aquilo que pedi...

Laineh Alves está de parabéns! Luciana Midlej, Melinda James e Adriana Almeida também estão, por promover oportunidade tão gostosa de a gente se aprimorar e de contribuir decisivamente para o alto nível da dança do ventre no Rio de Janeiro!

Obrigada a todas que me abraçaram, apoiaram e que me têm em 1º lugar em seus corações!
Estou em paz.