sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Gêneros (Estilos) Musicais Árabes

Apostila de Gêneros Musicais Árabes
Por Nadja el Balady atualizada em 15/06/20

Apostila de Gêneros Musicais Árabes



Este é um estudo a respeito do nosso material de trabalho: A cultura musical árabe. Penso que a preocupação em conhecer estes contextos musicais podem muito bem nos tornar artistas melhores a medida em que compreendemos o que ouvimos e por isto temos mais recursos para interpretar.
Pesquisando, achei bem difícil encontrar definições fechadas. É um trabalho árduo e pode tomar anos.  
Esta postagem se destina àquelas que como eu, buscam mais informações para embasar suas criações em dança. Vou complementando e modificando o conteúdo a medida em que aprendo mais sobre este assunto TÃO vasto e relativo....

Para entender os principais gêneros ou estilos musicais árabes, é necessário abrir os ouvidos e estar atento às combinações entre os ritmos e os instrumentos que compõe harmonia e melodia das músicas.
Conhecer os folclores, as músicas populares e o conjunto de características sonoras de cada povo pode ajudar a bailarina a encontrar uma melhor interpretação corporal para cada música e entendê-las dentro do contexto de um espetáculo profissional tipicamente árabe.
É preciso compreender também que a arte não tem limites e não pode se resumir às gavetinhas que nosso cérebro tenta organizar para nosso entendimento. Os estilos musicais não estão separados por muros, ao contrário. Ao longo do tempo, um estilo influencia outro até que se forme um novo estilo derivado das misturas. Existem músicas que, inclusive, alternam em si mais de um estilo. Existe também uma diferença sutil, porém significativa, entre duas músicas de um mesmo estilo, sendo que uma foi composta para espetáculo de dança e outra para o rádio... Cabe à bailarina agir com sensibilidade para perceber como direcionar sua dança perante determinada música. 

Tentemos agrupar algumas músicas em estilos principais...
Procurei descrever aqui os essenciais para que uma bailarina profissional possa direcionar sua movimentação, sua corporeidade, dentro da música que escolhe para dançar.
Excluí intencionalmente nesta apostila, os folclores, por ser assunto muito extenso e contar com uma infinidade de variações relativas a culturas populares específicas, de acordo com regiões e países árabes. Uma infinidade de tribos beduínas e etnias que devem ser estudadas separadamente.

Vale ressaltar que esta divisão não é alguma lei ou regra rígida. Foi feita livremente por mim, fruto de minhas conclusões baseadas em aulas, workshops, diálogos com músicos e pessoas ligadas ao mundo árabe em geral. Este modo de pensar tem me ajudado a compreender melhor a musicalidade que é meu instrumento de trabalho. Pode, inclusive, vir a sofrer alterações à medida que continuo estudando e crescendo como pessoa e profissional.


Mashallah / Música religiosa – Apenas para mencionar, existem diversos tipos de música religiosa árabe. Cada etnia, cada povo terá sua própria gama de composições. É muito importante ressaltar que não devemos usar música religiosa para show de dança. É pecado, de acordo com a religião, seja islâmica ou catolica. Com o tempo aprendemos a reconhecer os gêneros musicais e a escolher as músicas com segurança, mas mesmo assim podem acontecer equívocos. Este é um dos bons motivos para que você procure a tradução das músicas que você escolhe para dançar. Cuidado com a gafe! A música religiosa pode ser muito antiga, pré islamica, medieval, clássica, moderna ou até mesmo refletir a música popular de etnias diversas. Podemos pensar que determinada música servirá para uma apresentação folclórica por suas características rítmicas e melódicas, mas na verdade trata-se de música religiosa. Mesmo que isso não tenha muito significado para você, é sempre bom respeitar a cultura alheia.


Música sufi da Síria


Música sagrada islâmica do Marrocos


Música sagrada Núbia - Egito


Existe, inclusive, um equivalente ao estilo gospel islâmico, no sentido de serem músicas bem modernas, com roupagem pop, parecendo músicas românticas. Muito, muito importante conhecer a tradução da música antes de usa-la para dançar.





Música Clássica Árabe – Este é um gênero extenso e com diversas ramificações. Desde a poesia pré islâmica, passando por todos os séculos de expansão do islamismo, do império otomano, das trocas culturais com o ocidente, a música árabe construiu sua identidade, que é a identidade cultural de diversas etnias composta por diversos povos e nacionalidades. Popular e erudito são distintos, no entanto dialogam entre si em diversas composições através dos elementos musicais como ritmos e maqam. Cada país do mundo árabe tem sua própria história musical, mas basicamente, podemos classificar alguns períodos para o desenvolvimento da música clássica árabe de acordo com a relevância histórica e cultural. 

Per[iodo  Pré islamico
A música da Península Arábica pré-islâmica era semelhante à da música antiga do Oriente Médio. A maioria dos historiadores concorda que existiram formas distintas de música na península arábica no período pré-islâmico entre o século V e VII. Neste per[iodo eram famosos os longos poemas contando histórias de heróis beduínos e suas aventuras pelo deserto e frequentemente estes poemas eram musicados.

Acreditava-se que Jinns (gênios) revelassem poemas para poetas e música para músicos. Não era pensado que o canto era obra desses intelectuais e, em vez disso, era confiado a mulheres com belas vozes que aprenderiam a tocar alguns instrumentos usados ​​na época e a tocar as músicas respeitando a métrica da poesia. As composições eram simples e se usava  um único maqam. Fonte: https://www.classicalarabicmusic.com/traditional%20arabic%20music.htm



Periodo Islamico inicial
No início do período islâmico, os princípios da música grega foram traduzidos pelo estudioso muçulmano Isḥāq al-Kindī (801-873 dC), que publicou 15 artigos sobre teoria da música. A palavra "mussiqa" foi usada pela primeira vez em árabe.Um físico chamado Abū Naṣr al Fārābī (870-950 dC) publicou o Large Book of Music no qual ele documenta o puro sistema de maqams de tons árabes, ainda hoje usado na música árabe.
Mais tarde, no século 13, Safi al-Din al-Urmawi (1216-1294 dC) desenvolveu notação musical para ritmo usando notação geométrica, que não apareceu no mundo ocidental até o final do século XX. No século 11, a Espanha islâmica era o centro de fabricação de instrumentos musicais, que finalmente chegou à Europa.
Mais tarde, com a ascensão do vasto Império Otomano do século 13 ao início do século 20, a música otomana foi influenciada pela música bizantina, armênia, árabe e persa. Provavelmente, essa confluência se deve à vastidão do império otomano islâmico e às rotas comerciais dentro dele.
Os maqams são a maneira como a música árabe define a melodia. A poesia e a música em cada região continuaram através da tradição oral, resultando em padrões de fato para cada área. A Conferência de Música Árabe do Cairo, em 1932, estabeleceu que existiam variações regionais na entonação do maqamat árabe (pl. Maqam) e tentou listar os maqams mais populares para estabelecer um padrão como na música ocidental (que usa instrumentos de temperamento equilibrado)


Assista a esta palestra fantástica sobre "O movimento e desenvolvimento dos instrumentos musicais no período islâmico inicial: O caso de Kantele" de Idriss El Thalji

Muwashahat - É um termo para designar a música medieval árabe originada na Espanha islâmica durante o século X. É uma sofisticada forma musical que inclui vocalização e prolongados padrões rítmicos. É considerado um termo tanto para uma forma de poesia quanto para um gênero musical.
O nome muwashahat, foi dado em referência ao Wishah a (faixa) que as mulheres usavam na Andaluzia. É descrito como sendo confeccionado em artesanato delicado, semelhante à intrincada estrutura melódica, rítmica e poética do muwashahat, bem como aos significados que provocava no uso de imagens. Os poemas expressavam diretamente os pensamentos e sentimentos do poeta. A letra falava de amor, alegria e tristeza. O uso de imagens enriqueceu essa forma poética
Embora sejam escritos em árabe clássico, os poemas não se baseiam na métrica da poesia árabe clássica. Em vez de usar uma sequência fixa de sílabas acentuadas e não acentuadas, elas são agrupadas como adaptações de um padrão musical rítmico pré-determinado. 
Al Faruqi em seu artigo “A tradição andaluz”, descreve como um poema apresentado com música, consistindo de repetidos retornos a uma mesma estrofe como um refrão musical.
Em 1492, quase meio milhão de árabes foram expulsos da Península Ibérica. Eles migraram para o norte da África, levando consigo sua tradição cultural. Músicos e cantores carregavam consigo sua herança musical de tratados, instrumentos e diferentes gêneros musicais, que incluíam milhares de muwashahat.
Jihad Racy escreveu que “é aceito comumente que esta forma musical foi introduzida no Egito por um músico vindo de Aleppo na Syria no final do século dezessete”. Este estilo se manteve muito presente na cultural musical do Egito até os primeiros anos do século XX.
Na moderna interpretação deste gênero, estes ritmos intrincados foram substituídos por outros mais curtos e mais dinâmicos em seus padrões. Enquanto a forma essencial permanecia intacta, instrumentos ocidentais eram adicionados, juntamente com uma harmonia simples e o contraponto. As letras dos poemas reeditados ainda retinham o idioma clássico e a metafórica forma descritiva da poesia Mwashahat.
Por favor, não confunda a música Muwashahat com estilo de dança Muwashahat. O estilo de dança foi criado criado por Mahmoud Reda na década de 70 para as composições de Foad Abdel Magid para a TV egípcia. Este estilo acaba por definir a própria assinatura artística do trabalho deste coreógrafo. Podemos perceber ali a base do que podemos chamar Dança Oriental Clássica, naturalmente fusionada ao Balé Clássico. Para maiores detalhes a respeito, confira a apostila sobre Muwashahat: https://nadjaelbalady.blogspot.com/2016/11/estilo-reda-e-muwashahat-musica-x-danca.html


Qiyan Music of Al Andalus


Lamma Bada


Oh Gazelle - Foad Abdel Magid


Ya gharib al dari - Foad Abdel Magid

Música Samai
A forma samai é predominante na música artística árabe e turca.  Existe há cerca de 200 a 300 anos. Também é geralmente aceito que a forma é de origem otomana:  pela maioria dos relatos ele nasceu na Turquia. Musicalmente, o período otomano foi caracterizado por assimilação e troca graduais. A música árabe interagia com a música turca, que já havia absorvido elementos musicais da Ásia Central, Anotólia, Pérsia e Síria islâmica medieval e Iraque. Essa interação foi mais óbvia nas cidades maiores, particularmente Alepo, Damasco e Cairo.
O sama'i (ou turco saz semai), gênero musical usado ​​na corte turca e na música religiosa sufi, foi introduzidos no mundo árabe antes do final do século XIX.  
No que diz respeito à teoria e nomenclatura, os sistemas musicais árabes e turcos se sobrepuseram consideravelmente. Os modos melódico e métrico na Turquia e no mundo árabe, particularmente na Síria, exibiram e ainda exibem fortes semelhanças.

Convenção de nomenclatura: em árabe, um nome típico de um Samai consiste na palavra Samai, seguida pelo nome do maqam que o samai explora. Exemplo: "Samai Rast". Como pode haver mais de um samai em um determinado maqam, o nome do compositor é adicionado ao nome do samai. Exemplo: "Samai Nahawand Masood Jamil". Em alguns casos raros, um compositor daria a seu Samai um nome único, em vez de seguir a convenção de nomenclatura. Um exemplo é "Sihr Al-Sharq" em vez de "Samai Nahawand Al-Hariri".

Usos tradicionais: tradicionalmente, um Samai aparece no início de um conjunto de instrumentos ou músicas. Faz parte de uma série de peças instrumentais que abrem o conjunto, que podem incluir peças instrumentais de outras formas, como Bashraf, Dulab e Taqaasim. Essas peças instrumentais foram usadas para estabelecer a tonalidade e o relacionamento de Maqam com outros maqams nos ouvidos dos ouvintes e cantores, e aquecer os ouvintes até o cenário vindouro. O cantor normalmente começava a cantar logo após o samai ser tocado.

A gente pode facilmente confundir Muwashahat com Samai pelo uso do ritmo Samai nas duas formas. Embora tenham conexão entre eles, estes estilos não são sinônimos.



Samai Nahawand


Samai Bayati

Mwashahat e Samai dentro das rotinas para dança
Estes estilos são comumente representados dentro do estilo musical conhecido como Rotina Oriental, Rotina Clássica, Opening Music, Mejance ou Mis em Céne. Este é um estilo que combina diversos estilos musicais em uma só música, fazendo uma espécie de “colcha de retalhos” cultural em cada composição. É comum que as rotinas modernas contenham um trecho referente a uma forma clássica de música representado por uma estrutura mais ou menos comum a todas as rotinas: A entrada de um ritmo que em cada compasso temos contagem ímpar - Vals (3 tempos) - e/ou extenso (com compassos de mais de 4 tempos) -  normalmente Samai (10 tempos) ou Masmoud Kbir (8 tempos) – acompanhado de arranjo musical com duas sonoridades melódicas predominantes: Violinos orquestrados e qanoum ou alaúde. Teremos uma frase musical tocada com violinos que se repetirá com qanoum ou vice-versa. Nada impede que entrem outros instrumentos como flautas e violinos solistas. Nada impede que sejam outros ritmos extensos utilizados além dos mencionados neste texto. Existem inúmeros ritmos que servem para compor Mwashahat. Aqui cito alguns dos mais comuns encontrados nas composições de Rotinas.

A bailarina pode interpretar este estilo através dos movimentos de Mwashahat ou não. Fica a seu critério. Dentro da leitura musical, o estilo de dança Mwashahat faz pouca distinção entre os instrumentos melódicos. Isto significa que a leitura corporal através do vocabulário de mwashahat não usaria sinuosos com tremidos para Qanoum ou alaúde, por exemplo. Ou sinuosos para flauta. O que eu, Nadja El Balady, acabo por escolher, é uma leitura mista, usando quadril para ilustrar Qanoum e alaúde, e o vocabulário de Mwashahat (de natureza aérea) para o trecho com os violinos.




Taksim ou Taqsim - É a tradição musical de improvisação melódica que pode ser um movimento de uma suíte clássica, pode preceder uma composição musical tradicional árabe, grega, turca ou otomana. O Taqsim é a essência da música médio oriental, sendo ao mesmo tempo um estilo musical em si, ou parte de outros estilos sejam eles clássicos ou populares. Uma música balady, por exemplo pode ter um trecho de taqsim, bem como um Muwashahat e Samai.
Taqsim é a improvisação baseada em um maqam (escala tonal) principal, onde o instrumento solista passeia por outras melodias e tons até retornar ao principal. Encontramos taqsim de vários instrumentos como violino, flautas diversas, qanoum, alaúde, acordeom, entre outros. Pode ser acompanhado por um ritmo, mas é comum que seja não métrico.
Taqsim pode ser considerado como uma conexão com o mundo espiritual.
Para nós, bailarinas, este é um momento de explorar a sensibilidade e a capacidade de improvisar. Deixar a emoção fluir, explorar os sinuosos e se deixar tocar pela melodia. É importante se concentrar na melodia, pois ela é a essência deste estilo de música. Se o pedaço tiver ritmo, é interessante tentar interpretar esta melodia dentro da métrica rítmica, equilibrando melodia com ritmo, surpresa com musicalidade, emoção e técnica.
O Taqsim Baladi é um estilo a parte. Pode ser definido como a alma da musicalidade popular egípcia. Improviso de Acordeom dentro do maqam estabelecido pela estrutura do Taqsim, e este dialoga com o derbake enquanto flutua pela melodia. Normalmente a percussão toca a base rítmica em Maqsoum ou Masmoud Saghir (baladi). Aconselho interpretar este estilo utilizando a técnica e a ginga baladi, bem egípcia, vestindo galabia para dar um toque bem popular a sua interpretação. 


Taqsim Alaúde


Taqsim Qanoum


Taqsim Nay


Taqsim Violino

Oriental / Sharq (Rotina Oriental) – Entendo por Rotina Oriental uma estrutura musical, oriunda da tradição musical clássica, que combina diversos estilos musicais árabes para formar uma só composição. Por isso, nela encontramos variedades de ritmos, instrumentação melódica e harmônica que remetem à musicalidade árabe como um todo, incluindo as tradições populares e folclóricas.
Com a evolução da dança do ventre cênica (de palco) durante o século XX, esta estrutura musical foi concebida para se prestar aos espetáculos de dança, sendo, hoje em dia, a maior parte destas músicas compostas com esta função específica, ou seja: Compostas especificamente para ser a música de abertura de um espetáculo de Dança Oriental, a entrada, onde a bailarina pode demonstrar técnica e conhecimento musical. Muitas vezes chamadas de "Entrance", "Mejance" ou "Opening Music", as variações destas músicas se determinam com o fluxo de mercado e com a evolução do tempo. Anteriormente as músicas tendiam a serem longas, muitas vezes respeitando a tradição árabe do improviso artístico. Hoje em dia as composições são cada vez mais curtas, e as apresentações cada vez mais coreografadas, atendendo às expectativas de público e eventos ocidentais.

Estas músicas, em geral, possuem estrutura similar, que podem ser divididas em:
Introdução, chamada, entrada, um trecho balady, um trecho com solo (taksim) de instrumento melódico, mwashahat, folclore, solo de derbake e finalização.
Pode – se encontrar músicas com todas estas variações, ou não. Assim como alguns trechos podem se repetir. Não existe uma regra obrigatória e pode ser que alguns elementos não apareçam. Ponto em comum é sempre a entrada da música, em geral composta com grandes acordes de violinos orquestrados.

Para dançar bem este estilo é imprescindível conhecer ritmos árabes, folclore e outros estilos musicais.

Joumana 


El Hoor



Clássicos Egípcios e Tarab 
Quando falamos em Clássico egípcios, nos referimos diretamente às músicas que foram compostas em determinado período histórico,  entre as décadas de 50 e 70, quando o movimento de valorização popular transformou toda a cultura egípcia.
Equivalente à importância que a Bossa Nova teve para o Brasil, os Clássicos eram (e são) sinônimo de bom gosto e refinamento. Sinônimo de boa cultura, apreciado por muitos, não só no Egito, como em todo o mundo árabe.
São músicas tradicionais muito famosas, muitas delas em composições rebuscadas, feitas para ouvir e embalar sonhos de amor. Arranjos refinados, poesia sensível. São músicas cuja dramaticidade não pode ser ignorada pela pessoa que a está interpretando, seja na voz ou no corpo.
São famosas por sua complexidade musical, melodias elaboradas e nunca saem de moda no mundo árabe.
São músicas longas, divididas em partes ou capítulos, do mesmo modo como uma ópera é dividida em árias. Possuem grandes introduções e trechos instrumentais. A poesia é muito importante, é romântica e extasiada. As composições mais famosas foram compostas entre as décadas de 40 e 60, quando se eternizaram. O modo de compor foi sendo alterado com o passar do tempo de modo que nenhuma música moderna chega ao esplendor e poesia das composições deste período.
Musicalmente, este estilo utiliza variação grande de ritmos e estilos. Muitas vezes combinam estilos musicais populares e eruditos em uma só composição, alternando trechos "baladis", "taqsims" e  "mwashahats". 
Tarab é uma expressão que, em português, significa: “O êxtase alcançado por público e artista no momento em que a arte acontece.” Ou algo similar. Da tradição musical clássica egípcia. 
É difícil definir o que faz de uma música um “Tarab”. Segundo o professor egípcio Khaled Eman, Tarab é um estilo específico dentro das clássicas egípcias, pois além de serem músicas longas (com mais de uma hora de duração, normalmente), suas poesias precisam NECESSARIAMENTE começar com uma pergunta. E todo o resto da poesia seria uma viagem conduzida pelo artista na busca da resposta para esta pergunta e ainda depois de lamentações, apelos e esperanças esta resposta talvez ainda não se encontre ao final da música. Dentro deste ponto de vista, Tibidi Mnein El Hikaya seria um Tarab, mas Enta Omri não, pois não começa com uma pergunta.  Enta Omri e outras músicas muito famosas de Om Kalsoum, que nós aqui no Brasil conhecemos como Tarab, seriam tradicionais clássicas. Apesar disto, estas músicas têm as mesmas características musicais de qualquer outro Tarab.
Aliás, dançar uma música deste estilo é também se entregar à interpretação. Se a música for cantada, é necessário conhecer a tradução e o sentimento da letra em questão, mesmo que se esteja dançando uma versão instrumental. Muitas músicas destas possuem introduções grandes, não letradas, que podem servir para a bailarina utilizar em seu show sem a obrigatoriedade de interpretar, pois estas introduções não têm letra. Mas ao dançar a parte cantada, melhor podemos apreciar mediante a interpretação da bailarina que pode levar o público ao estado de “Tarab”.
 Vale dizer ainda, que este gênero não era utilizado em espetáculos e shows de dança até meados da década de 1980, quando a famosa bailarina Suheir Zaki interpretou pela primeira vez o grande clássico Lessah Faker em palco.
Om Kalsoum foi a mais famosa cantora do estilo, que teve como compositores mais famosos Mohamed Abdel Wahab, Abdul Halim Hafiz, Farid el Atrach, entre outros.
Exemplos de músicas clássicas que se interpretam como Tarab: Tibidi Mnein El Hikkaya, Inta Omri; Alf Layla wa Layla; El Hob Koulo; Leylet Hob, Daret Al Ayam, Lessah Faker.


Um Kulthum (Om Kalsoum) - Inta Omri


Suheir Zaki - Lessah Faker


Dina - Siret El Hob

Sha’abi – Nos referimos neste estilo às músicas populares do Egito, especialmente as que usam a musicalidade do Cairo e adjacências. A palavra Sha'abi quer dizer literalmente "popular". Em teoria, qualquer estilo popular poderia ser assim denominado. Mas esta nomenclatura ficou conhecida pelos próprios egípcios para denominar um estilo surgido na década de 70 como uma resposta das classes menos favorecidas à música elitizada dos clássicos árabes. Mais ou menos como o surgimento do pagode no Rio de Janeiro, ou o brega do nordeste, o estilo se tornou um símbolo da região.
Existe inclusive um estilo marroquino conhecido como Chaabi. Mas aqui vamos falar do Shaabi egípcio, tanto o antigo já com músicas das décadas de 70 e 80 consideradas tradicionais, como o moderno conhecido como Street Shaabi, ou Mahraganat Shaabi.
Desde as músicas mais modernas às mais tradicionais e folclóricas, as composições deste estilo são frequentemente compostas com elementos típicos da cultura egípcia: Usam os ritmos maqsoum, falahi, said e podem incluir solos de acordeom e Mawal ( lamento poético improvisado, como um taksim de voz).
Na década de 70, a partir do acesso ao processo de gravação de fitas K7, a população suburbana do Cairo pôde compor, produzir e consumir suas próprias músicas. Um estilo fadado ao sucesso de consumo, fazendo as menina dos olhos das recém criadas gravadoras populares.

Eram músicas que falavam de coisas corriqueiras da vida comum e muitas delas eram bem românticas. É bem comum encontrarmos personagens nas letras das músicas, como a mulher formosa que caminha na rua chamando atenção, ou a moça feliz no dia do casamento, ou ainda o moço que sonha com o amor platônico da moça bonita que vê passar ao longe, dentre muitos exemplos do estilo. 

Grande compositor famoso do estilo na década de 70: Ahmed Adaweya. 
É importante ressaltar que as composições deste período eram bem próximas às características da música baladi. Mesmo povo, mesma região, mesmos instrumentos, mesmas frases melódicas, mesmos elementos musicais. O que diferencia é a passagem do tempo e a mudança de recursos técnicos, como o uso de sintetizadores e teclados que imitam outros instrumentos e barateiam o processo de produção.


Ahmed Adaweya - Bent El Sultan



Dina - Tahtl El Shibak

Com o passar do tempo, ao longo das décadas de 90 e primeira década dos anos 2000 o surgimento e fortalecimento da música pop egípcia. Processo de globalização, internet e o avanço da tecnologia, bem como o surgimento da MTV egípcia foram fatores fundamentais para a entrada de elementos ocidentais na música moderna do Egito. Vídeo clips, e cantores com visual cada vez mais ocidental. Batidas eletrônicas e elementos modernos.



Hakim - Salam Aleikom


Saad -El Enab

Maharaganat
A partir do fenômeno político-social conhecido como "Primavera árabe", na virada da segunda década dos anos 2000, a música popular tomou uma características de músicas de protesto. Músicas de protesto político, músicas de protesto social. Músicas que falam sobre sexo e drogas. Músicas que clamam por liberdade e transformação social. Músicas que chocam, ou falam de amor. Músicas de baixa qualidade musical, mas sempre com um apelo popular muito forte. A música dos jovens de periferia. Do jeitinho do Funk carioca, um estilo que influencia a tudo, quer você goste, ou não. É cultura popular, quer você goste ou não. Vende, faz sucesso e dinheiro, quer você goste ou não.
Na dança, os jovens usam muitos passos de hip hop, street dance, até break. É um estilo bem americanizado, embora mantenha a essência musical egípcia.


Egyptian Cool mahragan

Mahraganat: Cairo's Music Revolution | Journal Reporters


Pra usar uma música destas no show de dança do Ventre é bem interessante prestar atenção na letra da música. Saber o que se dança e evitar  gafe e procurar um estilo popular para representação corporal. Em termos de figurino, evitar o figurino clássico de princesa. Pode ser uma mini saia, um figurino ousado, justo, com fendas. Que imite um vestido sexy de noite, ou ainda a boa e velha calça jeans.



Para o estilo Shaabi, isto vai fazer diferença na sua performance: Se a música é tradicional, ou moderna. O novo Sha'abi pede interpretação, figurino e movimentação modernas, uma maneira mais ousada de dançar, se vestir, se comportar.
Acho interessante mencionar que, no caso do Street Sha’abi/ Maharaganat, a maneira como os egípcios dançam estas músicas em suas festas, não será exatamente como a dançarina levará uma coreografia desta ao palco. Muitas vezes o que veremos é uma interpretação bem mais “belly dance” das músicas do que o que efetivamente é dançado pelos egípcios.  Nas coreografias vemos algumas referências de movimentação Sha’abi real, bem misturado com o trabalho de quadril da dança do ventre.


Basboussa - old shaabi


Street Shaabi


Pop / Modernas – Este é um termo bem abrangente para classificar determinadas músicas que são muito usadas para shows de dança, embora não tenham sido compostas com esta finalidade. Aqui vamos incluir músicas de diversos países e períodos, caracterizando um estilo renovável, com inúmeros intérpretes e compositores em todo o mundo árabe.
Músicas pop podem ser românticas e mesmo aquelas com arranjos mais refinados possuem em sua intenção um apelo comercial. São produzidas para serem tocadas no rádio, em videoclips e venda para grande público.
A música pop tem modificação de região para região, de um país para outro, de acordo com os ritmos e instrumentação característica de cada povo. Por exemplo, a música pop saudita terá características do Khaliji. O pop egípcio será Sha'abi e o libanês terá a musicalidade do Dabke.
Existe ainda a música árabe eletrônica, produzida para a pista de dança, batidas House, Electro, Trance, tocadas em boates e festas.
Uma outra linha é a das músicas românticas. Possuem refrão meloso e as composições mais modernas se aproximam muito, em determinado sentido, da música pop romântica ocidental. Aliás, podemos comparar este estilo à nossa MPB. É um estilo de música radiofônico, com apelo popular, melodia suave.
Vai se tornando cada vez mais pop com a inclusão de sintetizadores e a pasteurização dos arranjos. É como se fosse um pop lento...
As músicas egípcias têm uma musicalidade mais melancólica, em geral, e acabam soando musicalmente como as antigas composições clássicas, como “Tarab”, justamente pela influência da tradição musical egípcia. Entre as décadas de 70 e 80 vamos encontrar uma transição entre o antigo estilo clássico e as pop românticas. A cantora Warda tem diversas canções que, embora possuam arranjos simplificados e sejam músicas bem menores do que as antigas, são consideradas clássicos. Como exemplo, podemos citar "Batwanes Beek". Ainda grande para os padrões de hoje em dia, a versão original tem 14 minuto, mas já é bem menor do que os grandes clássicos de 1 hora de duração.


Pop Egípcio


Pop Libanês


Arabic Pop eletro


Pop Romântica


Warda - Batwanes Beek

Performance ou Raksa – Este é um estilo bem pouco comentado, mas recentemente descobri que alguns músicos dão a nomenclatura "Raksa" para um estilo que até então eu não possuía vocabulário para denominar. É, em realidade, um termo abrangente para músicas que são compostas para show de dança. O objetivo das composições é criar climas através de imagens sonoras, que são facilmente percebidas e interpretadas corporalmente, quase que contando uma história. São normalmente músicas instrumentais. Existem músicas para show de dança compostas dentro da estrutura tradicional, como a Rotina Oriental Clássica, ou mesmo as antigas músicas turcas de artistas como George Abdo e Eddie Kochak. O próprio solo de percussão é um tipo de composição para show de dança, porém podemos pensar nesta nomenclatura principalmente para as mais performáticas que se valem da musicalidade árabe em geral, de todos os seus ritmos e muitas vezes de fusões com outros gêneros musicais não árabes. Encontramos várias músicas destas em CDs de Cias de dança famosas. As americanas parecem apreciar bastante este tipo de música para shows. Não é normal encontrar uma egípcia dançando músicas assim. O que nos faz pensar que é um tipo de música voltada para o mercado ocidental da Belly Dance. Hossam Ramzy tem diversos CDs com várias composições excelentes nesta linha. Existem muitos outros compositores além dele. São músicas ótimas para dançar com acessórios como véus, espadas, leques, taças, etc...





Entance of the stars - Paul Dinletir


Solo de Percussão – Este estilo pode ser considerado tanto performático, como parte da tradição popular. Considerado o Taqsim da Tabla ou Derbake, que pode ou não ser acompanhado de outros instrumentos percussivos. Estilo musical inserido no show de dança, produzido no intuito de demonstrar refinamento e agilidade técnica do músico e da Bailarina. Arranjos e convenções de inúmeros instrumentos de percussão árabe, podendo o solo ser feito com apenas um músico, ou com vários. Pode ser utilizada toda a infinidade de ritmos árabes. Normalmente é o estilo escolhido para encerrar um show, após o folclore. Mas não é obrigatório. Aliás, nenhum estilo é obrigatório em um show. Existem inúmeras variações, mas geralmente, assim podemos observar. Existem solos de percussão que seguem regras musicais bem típicas da cultura egípcia, que são bem bacanas para usar trechos folclóricos nos shows, finalizando um taqsim baladi ou uma performance ghawazee. Existem outros solos que usam ritmos diferenciados, arranjos modernos e ficam mais ao gosto das dançarinas virtuose ocidentais. Estes podem ser dançados sem critérios folclóricos, onde a dançarina pode usar qualquer recurso corporal para sua coreografia.



Randa - Tableu Balady com tabla solo


Soraia Zaied - Drum Solo