quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Ebook Dress Code para Estilo Tribal de Dança do Ventre

 Finalmente!!!

Você que curte o estilo tribal de dança do ventre, vai adorar esta novidade do grupo Loko Kamel Tribal Dance!

No início do ano, nós escrevemos um guia de orientação para vestimenta e estética do estilo tribal, que seria usado como material de apoio para nossas aulas do curso de formação, mas ficou tão legal e incrível que decidimos compartilhar com vocês!

Agora estamos lançando o ebook DRESS CODE para estilo tribal de dança do ventre e você pode baixar ele agora mesmo, gratuitamente.

Neste ebook, você vai encontrar informações históricas sobre o estilo tribal americano e também sobre as diversas fusões. Vamos ver como os elementos de vestimenta foram sendo incorporados aos figurinos das diversas vertentes que compõe o estilo tribal, tornando-se desta forma, um elemento essencial do número de dança!

Através do figurino e da maquiagem, a dançarina e o dançarino interpretam as culturas milenares reverenciadas no estilo tribal ao mesmo tempo expressam sua personalidade.

Tudo com muita beleza, liberdade e originalidade.

Você vai saber mais sobre as saias, os xales, as bijuterias, os acessórios de cabelo e os estilos de maquiagem, tudo com embasamento histórico e seus significados.

Curtiu? Então baixe agora o seu ebook! Basta clicar neste link, cadastrar seu email e baixar gratuitamente.

https://lokokameltribaldance.com.br/

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Ghawazee


A influência do folclore árabe na formação do Estilo Tribal 

Parte 3: Ghawazee


 Ghawazee” é plural da palavra “Ghazya” que significa originalmente “invasores”, posteriormente ganhando o significado “dançarinas” dentro do dialeto árabe egípcio, segundo inúmeras fontes. Segundo Mirian Peretz, no artigo “Dances of the “Roma” Gypsy Trail From Rajastan to Spain: The Egyptian Ghawazi Dance”, a origem da palavra designa grupamento de pessoas no Egito de origem das etnias Nawar, Halab e Bahlawan. Peretz dá destaque aos nawari que seriam um povo originário do Curdistão, tendo imigrado pelo oriente médio até o norte da África. Existem controvérsias entre os pesquisadores a respeito se seriam ou não considerados etnias ciganas. Como bem coloca o Dr. G.A. Williams em seu artigo “Dom of the Middle East: An Overview”, frequentemente se usa a palavra “cigano” para designar um estilo de vida comum de grupamentos étnicos que podem ou não ter uma origem comum comprovada. Dentro deste ponto de vista, estes clãs que imigraram para o Egito pertencentes a estas etnias seriam considerados ciganos por muitos de pesquisadores.

Os clãs de ciganos passaram séculos se deslocando e comercializando com outros povos nômades como Beduínos e Berberes. Desde a diáspora cigana, imagina-se que as tribos que desceram pelo Oriente Médio transitaram por alguns séculos até atingir o norte da África e por ali ainda se dividiram por diferentes regiões, como Egito, Argélia, Tunísia e Marrocos. Estes que imigraram para o Egito se estabeleceram em algumas regiões do território do país, principalmente na região delta do rio Nilo, no sul (região conhecida como alto Egito ou Said) e no próprio Cairo.

É de conhecimento público que para estes povos um meio de vida é também uma antiga tradição: A música e a dança. Se adaptando aos costumes locais onde vão, costumavam a se apresentar nas praças, em mercados, em casamentos e outras festividades familiares.
Tendo se tornado muito populares há alguns séculos, segundo o professor Khaled Eman, as vestimentas Ghawazee poderiam ser consideradas sinônimo de luxo pelo uso de jóias, moedas e metais em suas vestes, que segundo ele, seria a melhor maneira de carregar os próprios pertences.

Não se sabe bem se, as Ghawazee levaram consigo para o Egito sua corporeidade típica ou se ao chegar ao Egito ali já encontraram as movimentações sinuosas e somando estas à sua própria maneira de dançar, criaram algo novo. Encontramos no texto de Edwina Nearing a opinião de Mulouk, que esteve em contato direto com algumas famílias desta etnia: Segundo a autora, os Nawar etnicamente são ciganos, ainda falam a língua Nawari, e em sua opinião ”Se, através de sua jornada no Egito, um país de língua árabe, estes grupos preservaram algo de suas línguas nativas, eles devem também ter preservado algo de seu estilo nativo de dança.” (Mulouk apud Nearing)

O fato é que a dança das Ghawazee pode ser considerada o estilo originário da dança do ventre como a conhecemos pois, estas foram as primeiras bailarinas profissionais do povo egípcio. Suas apresentações em praça pública foram objeto das primeiras cartas dos soldados franceses a seus superiores durante a ocupação francesa em solo egípcio em 1798. Foram diversas vezes descritas como lascivas e obscenas para os olhos dos ocidentais cristãos. Segundo Claudia Cenci em seu livro “A dança da libertação” (2001), as descrições sobre o Egito feitas por estudantes e pesquisadores franceses “despertou um enorme interesse sobre o Oriente, dando início a era Orientalista que influenciou a produção artística ocidental dos séculos seguintes”.

No século XIX o rei Mohammed Ali expulsou muitas famílias Ghawazee e proibiu
suas apresentações no Cairo e em Alexandria. Mediante a proibição, os artistas sediados nestas cidades precisaram se mudar. Encontramos o seguinte trecho no livro “Folclore árabe – Cultura, arte e dança” de Melinda James e Luciana Midlej: “Alguns grupos foram para o alto Egito, para Aswan, Luxor, Qena, Edfu e Esna, e outros foram para um local no centro da região felahi chamado Soumboti.”

A maioria imigrou para o sul, para a região do alto Egito, ou Said. Assim como a família Maazin, há muito estabelecida no sul. "Banat Maazin" - As filhas de Maazin - São ainda muito conhecidas por suas apresentações de música e dança típicas da região Said. Este grupo ficou muito famoso e internacionalmente conhecido, tendo feito participações em filmes e grandes festivais de cultura. Nos dias de hoje, são as mais conhecidas e ainda é possível contato com Khairiyya Maazin, descrita por Melinda James como “a última Ghawazee”, que ainda dá aulas de dança para dançarinas pesquisadoras em sua casa em Luxor.



A região do delta do rio Nilo conhecida como Soumboti abrigou (e talvez ainda abrigue) um clã de famílias ciganas. Música, ritmo, dança soumboti, se conectam com a expressão Ghawazee e segundo Melinda James e Luciana Midlej seu estilo sofre grande influência beduína, da cultura felahi caipira, do Cairo e de Alexandria, sendo uma dança ousada, enérgica e sensual.



À primeira vista a dança das Ghawazee pode ser considerada como que “sem acabamento”, por se tratar de uma dança popular genuína. Podemos listar alguns movimentos típicos conhecidos pela dança do ventre com twist, as batidas laterais de quadril, contrações pélvicas, shimmies de ombro, o shimmie conhecido pelas americanas como shimmie de ¾ e básico egípcio.



Faz parte do estilo o uso predominante dos snujs durante as apresentações e no caso de uma representação das Ghawazee do alto Egito, o uso de bastão ou bengala é opcional. Desde o século XIX encontramos diversos registros de vestimentas típicas: Grandes batas, saias longas, bolerinhos ou cholis, saias de babado na altura dos joelhos, calças bufantes. A Ghawazee moderna usa sempre galabia, que pode ser de asuit, bordada com pastilhas, paetês ou muitas franjas. A Ghawazee sempre usa muitos adornos como colares, brincos e pulseiras e sempre adornos na cabeça que pode ser uma tiara grande bordada, um lenço de moedas ou bordado com vidrilhos. O colar com as luas crescentes invertidas é uma marca dos adornos Ghawazee.



 A dança Ghawazee e o Estilo Tribal Americano de Dança do Ventre

Os artigos que contam a história da dança do ventre nos Estados Unidos contam que a primeira apresentação se deu em 1893 na World’s Columbian Exposition em Chicago, uma feira organizada para a comemoração de 400 anos da chegada de Colombo à América e que contava com exibições culturais internacionais. Havia nesta feira uma área chamada “Streets of Cairo” onde aconteceram apresentações de dança de um grupo que seria de origem Ghawazee. Segundo Michelle Harper o grupo foi levado para Chicago pelo empresário Sol Bloom, que teria visto a apresentação do grupo em 1889 em Paris na Paris Exposition Universelle. A partir do evento em Chicago, onde a sociedade americana ficou chocada com as apresentações, muitas dançarinas passaram a se apresentar pelos Estados Unidos usando o nome artístico “Little Egypt” dando origem ao “estilo cabaré americano de dança do ventre”.

É possível dizer que já no chamado “estilo pré-tribal” da dança do ventre de Jamila Salimpour, em seu grupo Bal Anat na década de 70, podemos encontrar muitas influências da dança e da música Ghawazee. Desde o uso massivo dos snujs, dos elementos usados para os figurinos até a formação do vocabulário técnico do estilo de Jamila com muitos movimentos de origem Ghawazee. É importante entender aqui que o estilo criado por Jamila Salimpour influenciou fortemente o American Tribal Style®. Podemos citar alguns movimentos muito marcantes da técnica de ATS® que tiveram influência direta do estilo Bal Anat e que têm na dança Ghawazee a sua origem: Shimmie Step, Egyptian Basic, Shoulder Shimmie, Reach and Sit, Doble back, Layback, Arabic, Circle Step, Body Wave, Taxeem e claro: Ghawazy Shimmie Combo, criado posteriormente. Diversos destes movimentos fazem parte também do vocabulário gestual de outras danças de etnias do norte da África como beduínos e berberes e foram largamente usados por Jamila Salimpour em suas coreografias. Este vocabulário técnico se tornou a marca da dança do ventre californiana que deu origem ao ATS®. Carolena Nericcio, criadora do estilo, trabalhou em cima destes movimentos ao longo dos anos incluindo movimentações de braço específicas, acrescentando a postura flamenca e criando novas combinações de movimento exclusivas para o ATS®, modificando o caráter popular dos movimentos. As músicas típicas Ghawazee também são bastante apreciadas para performances de ATS®.



Jamila Salimpor                                        Ghawazee                                FatChance BellyDance


Apesar da clara influência da movimentação no vocabulário de tribal, onde mais se percebe a presença da dança Ghawazee é na tradição do improviso. O American Tribal Style® é um estilo de dança criado para o desenvolvimento da chamada coreografia improvisada ou improvisação coordenada. A dança das Banat Maazin, por exemplo era sempre dançada em grupo, como no ATS®. Uma das dançarinas tomava uma posição de liderança e as outras a seguiam, sendo esta liderança compartilhada com outra dançarina, como no ATS®. Assim como o vocabulário técnico, a formação do grupo e posicionamento das dançarinas foi modificado e estilizado sempre pensando no aspecto cênico da performance artística, na estética apresentada ao público.
Acredito que apesar das estilizações, o Estilo Tribal carrega consigo algo universal, que é marca da dança Ghawazee e que faz com que esta tradição sobreviva por tantos séculos: A alegria da dança coletiva e espontânea. A beleza da diversidade, a sensualidade natural da mulher que é livre para se expressar através de seu corpo e de sua arte.



Fontes
HARPER, Michelle “Hoochie Coochie: The Lure of the Forbidden Belly Dance in Victorian America” publicado no site https://www.readex.com
CENCI, Claudia “A dança da libertação”, Vitória Régia, São Paulo, 2001.
MIDLEJ, Luciana ; JAMES, Melinda “Folclore Árabe cultura, arte dança”, Kaleidoscópio de Ideias, São Paulo, 2017.
NEARING, Edwina, “The Gawazee Tradition”, publicado no site www.gawazee.com
WILLIMAS, A. “Dom of the Middle East: An Overview” publicado no site http://www.domresearchcenter.com
PERETZ, Miriam “Dances of the “Roma” Gypsy Trail From Rajastan to Spain: The Egyptian "Ghawazi" Dance” publicado no site http://www.domresearchcenter.com
MOHAMED, Shokry” La danza mágica del vientre”, Mandala Ediciones, Madrid 1995.
ALMEIDA, Isabela “Dança do Ventre: Transformações através do tempo”, Univercidade, Rio de Janeiro, 2009.

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Fusão Étnica Contemporânea



Este texto é uma reflexão fruto de experimentações pessoais e observações do processo evolutivo das criações em fusão no Brasil e no exterior. O desdobramento de um estilo em outro através de elementos criativos que são transmitidos de uma dançarina a outra em intercâmbio em uma mesma comunidade através de aulas, workshops, festivais e vídeos.
Apresento sugestões de nome para estilos derivado de outros estilos de dança.

Quando, graças à investigação criativa dos coreógrafos, um estilo de dança toma caminhos que o leva a romper as suas próprias fronteiras criativas, ele talvez precise de novos títulos e subtítulos que traduzam estas diferenças em relação à sua modalidade matriz.

FatChance BellyDance 

O Estilo Tribal Americano (ATS®), desde o seu surgimento, já inspirou milhares de novas dançarinas a criarem novos caminhos para explorar suas influências. Não demorou muito para que surgisse o ITS, o Tribal Fusion e a partir destes, outras possibilidades de fusão, Fusion Belly Dance, o Tribal Urbano, Neo Tribal, Dark Fusion, Fusão Tribal Brasileira, entre muitas outras fusões étnicas e temáticas.

A Fusão Étnica Contemporânea surge das fusões abordadas na formação do estilo tribal, mas propõe um olhar contemporâneo diferenciado, rompendo fronteiras criativas e se baseando em influências externas de outros estilos de danças cênicas.

Tribal

Tribo Berbere

O dicionário da língua portuguesa apresenta alguns significados diferentes para o vocábulo “Tribo”. Antropologicamente: “Grupo de pessoas que descendem do mesmo povo, partilham a mesma língua, têm os mesmos costumes, tradições etc.” Biologicamente: “Classificação sistemática e menor que a subfamília.” Historicamente: Divisão de um mesmo povo, como as doze tribos de Israel ou as tribos romanas, ou no sentido figurado: “Grupo de pessoas que partilha interesses, gostos, relações de amizade.”

Existem muitas definições para tribo e por consequência para o que será considerado tribal. Em comum à todas as definições é o sentido de coletividade, de afinidade entre participantes de uma mesma tribo. As manifestações artísticas de uma tribo serão fruto de hábitos e costumes semelhantes.
Loko Kamel Tribal Dance

Sabemos que o vocabulário de movimentos do American Tribal Style® tem raízes em movimentos de tribos ciganas, beduínas e berberes do norte da África, além do flamenco e de danças clássicas indianas, e que busca referências estéticas tribais para composição de figurino e inspiração musical. Apesar disso, o que realmente me leva a entender o estilo como um “estilo tribal de dança” é a natureza da improvisação coordenada que envolve as participantes de um mesmo grupo em uma mesma conexão mental e emocional. Também o fato de ser um estilo pensado para grupo e o fato deste grupo precisar conviver e treinar junto para desenvolver uma conexão cada vez maior entre si. Quanto maior a conexão, mais sincronizado e bonito é o resultado do ato de improvisar junto. O estilo tribal americano possibilitaria então, a formação de tribos no sentido figurado, com influências estéticas de tribos no sentido antropológico.

Danças populares e danças cênicas

Folia de reis - dança popular


Dança popular é aquela originária dos costumes de um povo. Fruto da história deste povo, das miscigenações, das características geográficas de onde provém a sua origem, de sua música, de sua comida, do clima de sua região. A dança popular será em família, com amigos, em ambiente descontraído, uma festa, um evento popular, não exige refinamento técnico de quem dança, é desenvolvida de forma espontânea e natural. Algumas danças são ligadas a rituais religiosos e são praticadas há tanto tempo que ganham status de danças folclóricas. Não vamos nos estender na conceituação de folclore, porém. Existem incontáveis danças populares ao redor do mundo em todos os povos, em todos os continentes. Danças populares que são expressões étnicas de seus povos, sua corporeidade, sua musicalidade, sua maneira de se vestir.

Equilíbrio Cia de dança
Dança cênica é aquela criada na idade média para entretenimento e expressão artística da classe nobre. As danças palacianas, desde as cortes europeias às andaluzas, danças criadas para apreciação de um público, para o desenvolvimento do virtuosismo, da técnica refinada. É a origem do balé e de diversos outros estilos que surgiram de seu desdobramento, negação ou evolução: A dança moderna, a dança contemporânea, o jazz, entre outras.




Existem muitos casos de danças populares que evoluíram para danças cênicas. Os profissionais de dança mais antigos foram os ciganos em diversas partes do mundo, por seu costume secular de usar suas danças populares para entretenimento e forma de ganhar dinheiro. O fato de expor a dança à apreciação de um público é já em si transformador da maneira como esta dança será apresentada, existindo uma preocupação com a delimitação de um espaço cênico, com a ocupação deste espaço, com posicionamento dos dançarinos, figurinos, maquiagem. Independente do estilo que está sendo apresentado, esta dança vai sofrer alterações de sua natureza espontânea original dando espaço à premeditação técnica, ao ensaio, ao desenvolvimento cênico.







Foi exatamente este o processo sofrido pelas danças populares egípcias no surgimento da dança do ventre, dança cênica que conhecemos hoje em dia, com raízes étnicas populares muito claras, mesmas raízes do American Tribal Style®, diga-se.

Fusão

Voltemos ao dicionário. Existem diversos sentidos para o vocábulo fusão, seja na química, física, estatística, política, linguística, sentido jurídico. Vamos nos ater ao sentido figurado apresentado pelo dicionário on line de português: “Junção proveniente da ligação ou combinação entre dois sujeitos, objetos, etc.” Também podemos entender como a união de dois elementos para formar uma terceira coisa.

Um dançarino que mistura no fazer de sua dança duas referências distintas estará fazendo uma fusão que pode se desdobrar em algo novo, surpreendendo a quem assiste, trazendo criatividade e um olhar diferenciado ao dançar.

Fusão na dança pode ser a mistura de quaisquer elementos de danças populares, cênicas, étnicas ou não. Você pode fusionar baladi com balé, ou afro com indiano, hip hop com hula hula, jazz com flamenco. Aquilo que fizer sentido para você, artista criador. Aquilo que te desafia a questionar o mundo, a fazer diferente, que te parece belo. Não existem proibições à criação cênica, embora existam algumas discussões contemporâneas a respeito da apropriação de determinados elementos étnicos para criação, seus limites serão aqueles impostos pela sua própria disposição corporal, mental e emocional. No meu entender, aquilo que faz sentido, que te move, deve ser explorado artisticamente, sem pudores.


Hip hop moderno contemporâneo

Fusão Étnica

Entendo por fusão étnica a utilização de um ou mais elementos de origem popular em uma criação cênica. Uma performance de fusão étnica pode ter um peso maior dos elementos estéticos de uma etnia específica, como música, figurino, movimentos. Porém uma fusão não pode pretender representar aquela etnia de forma fidedigna, ou não será uma fusão.
A que serve uma criação fusionada, a final?

Fusões servem para encontrar paralelos e interseções, apontar contrastes e diferenças entre os estilos fusionados. Existem muitos movimentos comuns a danças completamente diferentes, como por exemplo: Mamboty e frevo. Como estudante de danças populares egípcias e brincante do carnaval pernambucano, fiquei chocada ao descobrir a gama de movimentações semelhantes nestas duas danças de origens muito distintas. A minha tentação de “frevar” na semsemaya ou de fazer mamboty no frevo é bem grande! Pense na dificuldade de criar uma coreografia isenta de fusão. Poderia ser muito interessante uma fusão étnica com estes elementos, quem sabe, um marinheiro de sombrinha colorida. Uma brincadeira, um encontro de culturas, uma identificação de nossas semelhanças como seres humanos habitantes de um mesmo planeta redondo, onde as informações culturais giram no migrar dos povos e se renovam através dos tempos.


Bollywood – Fusão Étnica

Neste contexto das fusões étnicas, a própria dança do ventre como a conhecemos, já seria uma fusão entre elementos de danças populares regionais com elementos cênicos como o balé. O estilo tribal americano de dança do ventre (como foi originalmente nomeado) é seguramente uma grande fusão étnica, catalogada e formatada em um sistema de criação definido, com vocabulário de movimentos próprio e códigos para figurino e interpretação da música.

Fusão Étnica x Estilo Tribal

Embora o estilo tribal seja uma fusão étnica, ele não é aberto. Não é qualquer fusão entre os elementos de danças árabes, flamenco e danças indianas que vai ser considerada tribal. Como dito anteriormente, o estilo tribal americano é um sistema definido e fechado em seus códigos. Movimentos novos apenas são aceitos como vocabulário oficial de dança tribal, após anos de prática, testes e após cair no uso geral das praticantes de ATS® ao redor do mundo.
Fusões étnicas não se pretendem tribais, podem ter aspectos muito abrangentes e nenhuma preocupação em corresponder a este ou aquele código. Para exemplificar, podemos usar a figura de um guarda-chuva, onde o guarda chuva em si seriam as fusões étnicas e o ATS® uma de suas pontas.

Contemporaneidade

Desde o início do século 20 muitos coreógrafos se dedicaram a buscar novas maneiras de expressão corporal diferentes da rigidez do balé clássico. Esta busca deu origem ao balé contemporâneo, à dança moderna e posteriormente à dança contemporânea. A dança contemporânea pode ser considerada um desdobramento da dança moderna, bastante embasada em pensamentos desenvolvidos no pós segunda guerra por filósofos e pesquisadores do corpo, do espaço e de pesquisas somáticas, buscando uma maior integração do bailarino com a consciência de si, com o ato de questionar o mundo à sua volta e seu papel no mundo, buscando uma maior integração com o espaço que ocupa, com seu público e com a expressão de suas ideias.

Não existe um vocabulário de movimentos específico para dança contemporânea, em tese cada coreógrafo tem a liberdade de pesquisar e criar seu próprio vocabulário de movimentos de acordo com o que lhe interessa criar. Muitos coreógrafos embasam sua técnica em balé ou em elementos de dança moderna, outros buscam uma naturalidade de gestos cotidianos, ou uma busca por uma teatralização, derrubando as barreiras entre a linguagem teatral e a da dança. A música não precisa ser interpretada como na maioria das modalidades, funcionando mais como uma trilha sonora do que como ferramenta fundamental da linguagem. A dança contemporânea pode acontecer com ruídos, sons de natureza ou mesmo longos pedaços em silêncio. Pode propor interações com outras formas de arte e tecnologia, transcendendo o palco e o espaço cênico.


Coreografia de Pina Bausch (uma das maiores referências da dança contemporânea) para “Sagração da Primavera” de Stravinski

Existem sim clichês de movimentos da dança contemporânea, aquelas técnicas fruto de exercícios que passam de dançarino a dançarino e acabam por permear a criação de diversos artistas. Isto é quase inevitável de acontecer e propõe um catálogo de movimentações para iniciação na modalidade.
No meu entendimento, o que melhor pode definir o legado da dança contemporânea para todas as outras modalidades de dança é um olhar diferenciado sobre a criação. Questionamentos e quebras das regras anteriormente estabelecidas, o uso da técnica como um meio de expressão e não como um fim de virtuosismo somente. Este olhar pode ser estendido a qualquer modalidade e já é uma realidade nos processos de composição coreográfica de diversos artistas ao redor do mundo, incluindo os coreógrafos de danças étnicas populares e, como não poderia deixar de ser, influenciando a dança do ventre, a fusão, o tribal fusion e todo o seu universo ao redor, criando a fusão contemporânea.

Muitas artistas renomadas no meio se especializam em buscar a contemporaneidade nas suas obras, uma nova maneira de usar a técnica renovando o espaço cênico e as ideias aplicadas à dança. Várias já ministram workshops dedicados ao tema como é o caso das incríveis Mira Betz e April Rose, que através de suas criações trouxeram novo fôlego ao mundo da Fusion Belly dance e romperam de vez algumas fronteiras criativas.


Mira Betz e sua coreografia épica no The Massive Spetacular em 2011

Fusão Étnica Contemporânea

Romper as fronteiras da criação é algo que me interessa bastante enquanto coreógrafa. A liberdade de auto expressão sem regras de representatividade, sem regras estéticas onde eu possa me servir de todas as minhas ferramentas corporais e musicais para expressar uma ideia, um pensamento, uma emoção. A liberdade de investigar diferenças e interseções entre diversas linguagens populares para uma criação expressiva e cênica. Esta liberdade seria o olhar contemporâneo sobre a criação.
Transitar por conceitos de dança tribal é uma opção, para lá de não obrigatória. Acredito que falando de minhas criações pessoais, é bem possível que haja variedade de movimentações de origem tribal, afinal, minha corporeidade está embebida nesta formação técnica, mas é apenas mais uma ferramenta de movimentação e não é uma preocupação ou um foco criativo.

A Fusão Étnica Contemporânea se forma a partir da possibilidade de fusão de diversas referências culturais em um mesmo espaço corpóreo, revelando a possibilidade de manifestação da diversidade cultural em uma só linguagem.

O termo em si é uma sugestão para que as dançarinas e criadoras de fusões olhem para sua própria dança com curiosidade, um desejo de investigar onde estão os limites a serem transpostos em suas criações.
Nadja El Balady – Nostalgic


Shaman Tribal - Carcará