quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Formação em Dança

Reflexão feita a partir de recente debate no Facebook a respeito de cursos de formação em Dança Tribal.
Fui ao dicionário:
Formação
1 - Ato, efeito ou modo de forma, construir(algo); criação, construção, constituição.
2 - Maneira como uma pessoa é criada; Tudo que lhe molda o caráter, a personalidade;criação, origem, educação.
3 - Conjunto de conhecimentos e habilidades específicos a um campo de atividade prática ou intelectual.
4 - Conjunto dos cursos concluídos e graus obtidos por uma pessoa.
5 - Ato ou efeito de dar forma, modelagem.
etc...

A partir de então os significados ficam muito específicos em relação a biologia, geologia e até psicologia.

A princípio, o que nos interessa, é o significado da palavra em relação à educação, claramente em relação ao que forma uma dançarina e que de acordo com o dicionário, nos remete à definição 3: "Conjunto de conhecimentos e habilidades específicos a um campo de atividade prática ou intelectual." e 4:" Conjunto dos cursos concluídos e graus obtidos por uma pessoa."
Pois são as definições relacionadas à formação profissional.

Mas.. estamos falando da formação artística. E claramente um artista se utiliza muito mais do que conhecimento para alimentar a sua arte. Neste ponto, entra também a definição 2: "Maneira como uma pessoa é criada; Tudo que lhe molda o caráter, a personalidade;criação, origem, educação."

Claro que no caso da dançarina, criadora de suas próprias peças coreográficas, entrará em primeiro plano sua história corporal. Seu lugar de nascimento, sua genética. Aquilo que sua formação como pessoa lhe apresentou como cultura, o jeito de andar de seus semelhantes em comunidade, sua psiquê.  Tudo isto entra, em primeiro plano para determinar a maneira como uma artista vai se apropriar da ferramenta técnica e como vai devolvê-la ao mundo em forma de criação. Mas se não souber manejar determinado conjunto de conhecimentos, não terá sequer boa maneira de ser compreendida em sua expressão. A técnica, neste raciocínio, é a linguagem pela qual ela escolhe se expressar. Seu repertório de movimentos é seu vocabulário e a maneira como conecta um movimento ao outro é sua gramática. Seu fim: A expressão de suas ideias e / ou sentimentos sobre a vida, a realidade que a cerca e seu ponto de vista a respeito da própria dança. Quanto melhor se apropriar da técnica, melhor se expressará. Quanto melhor se informar, melhor clareza terá do que expressar.

Neste ponto, entram questões distintas do processo de formar... a formação técnica e preparação corporal e também o pensamento crítico a respeito do que se faz e porquê se faz.

No primeiro quesito, penso que antes de fazer Dança do Ventre, Tribal Fusion, Jazz, Balé, Contemporâneo, Fusão, Flamenco, Hip Hop, ou o que quer que seja, esta pessoa está fazendo DANÇA. E como tal, se faz necessário determinados fundamentos, comuns à todas as linhas estéticas de dança. Questões como controle do centro de força abdominal, eixo, equilíbrio, força e flexibilidade muscular, postura, expansão e ocupação do corpo no espaço...
Em segundo, vem a formação técnica na própria linha estética escolhida. No caso da dança do ventre, fusões e tribal, a técnica de quadril, trabalho de braços, ondulações e vocabulário específico.

No segundo quesito - aquilo que se faz em cena - encontramos o aspecto subjetivo e delicado. O que é bom ou ruim, julgamentos de valor... onde reside a arte e toda a sua magia e sua injustiça. Justo porque aquilo que forma a minha opinião é diferente do que forma a sua. Sua realidade é diferente da minha. Necessidades, desejos e conhecimentos também.
Pensar criticamente aquilo que se faz requer empenho... Conhecer os principais elementos históricos da   Dança, e da sua linha de dança. Conhecer o que fazem as pessoas que estão a sua volta, o que pensam as outras artistas da sua comunidade. Conhecer elementos culturais que levam as criações adiante.

Uma boa formadora não deveria se preocupar somente com a questão técnica. Em minha opinião, uma formadora deve se empenhar em apresentar textos, vídeos, histórias e exercícios que levem suas alunas à experiência do criar, do sentir, perceber e expressar.
A formação em dança é complexa e longa. Precisa de muitos anos de dedicação diária. Horas e horas por dia. Esta prática, obviamente, é mais importante do que qualquer diploma. Mas ter certificados e diplomas é importante no sentido de buscar orientação. Porque um bom artista deve ter um professor. Para orientar e corrigir. Ser auto didata é cruel. É preciso muito auto conhecimento e mesmo assim, nunca temos olhos para questões de erros que seriam facilmente corrigidos pelo olhar do outro. O outro nos ajuda a olhar dentro de nós mesmas. Todas as profissões têm professores regulares. Por que não a Dança Oriental?
Ainda assim, o professor, apesar de determinante, não tem papel exclusivo na sua formação. Seu principal material é você mesma. Seus desejos e possibilidades dentro da dança.
Fazer a faculdade de dança, pesquisar a história da dança e se perguntar por novos caminhos dentro da dança é muito bom. O contato com linhas estéticas diferentes abre os olhos, amplia os horizontes artísticos. Te dá uma formação embasada naquilo que vem sendo pensado e praticado há séculos em termos de dança. Uma formação formal, de imenso valor. Mas... Isto partindo do princípio que você já escolheu a sua linha estética de atuação. No nosso caso, a Dança Oriental.

Mas e no caso dos cursos sem reconhecimento pelo MEC? Como ver a formação de dançarinas?
As aulas regulares, quase todas sem reconhecimento de instituição alguma, são o principal contato da aspirante à arte. É através desta janela que ela vai perceber no seu cotidiano como a dança afeta sua vida, seu ser. Por isto, o local principal de sua formação. Workshops são essenciais para complementar esta formação, ampliando repertório, pontos de vista e informações. São importantes, sobre tudo para quem já é professora, para sua reciclagem e aprimoramento. Sem os workshops, a cena de dança oriental no Brasil estaria ainda muito aquém do que chegou. E do que pode chegar.
Mas o que seria um curso de formação, que não é aula regular e não é workshop?

Na verdade, vejo este tipo de prática como um grande apoio à formação principal. É onde o professor vai dispôr de um conteúdo programático que exponha sua metodologia de formação, seu ponto de vista  e seu material. Pode ser muito bom. Mas a verdade é que este tipo de curso nunca ocupará o lugar da aula regular. A verdadeira preparação corporal é diária. É preciso que a aluna tenha a bagagem da aula regular, sua formação principal. As questões essenciais do ato de dançar não podem ser plenamente desenvolvidas em poucas horas. Não existe milagre. É preciso que a aluna tenha a força de vontade de treinar por conta própria, se não, não vai alcançar o seu objetivo técnico na dança. Acho que o justo seria chamar de curso complementar à formação.

Acho que agora vem a parte do marketing e sobrevivência na dança... Honestamente... quem quer se inscrever em um Curso de Complementação à Formação em Dança Oriental? A pessoa quer saber que vai sair de lá formada! Quer comprar o pozinho de pirlimpimpim, a palavra mágica, quer achar que vai completar o curso dançando igual a professora.
Eu ministro um Curso Profissionalizante em Dança do Ventre. Claro que isto é o que eu quero que ele seja. Quero que um dia tenha reconhecimento oficial e diploma. Encaminhar minhas formadas ao ministério do trabalho. Mas por enquanto... não dá. Ainda não é possível. Mas não se trata de iludir minha alunas. Afinal, dou de mim o melhor e apresento o melhor do meu método em eterna transformação e expansão, onde eu, com meus parcos recursos, continuo a investir. E elas saem de lá melhor tecnicamente do que entraram, com confiança e processo artístico delineado. Prontas para encontrarem sozinhas seu próprio caminho de formação. Digo sempre no fim do curso: Agora é que começa!
Mas se eu não vende-lo como um curso profissionalizante, não vou ter o grupo de alunas com a base e o nível de interesse que preciso para que um dia este curso se torne formal. Afinal... não brota do nada! O próprio curso tem sua trajetória de amadurecimento perante o mercado.

Da mesma forma, no Tribal, a formação em ATS® do FCBD® não é reconhecida por nenhuma instituição de ensino. Mas se trata do método e da história artística de quem participou efetivamente da concepção do estilo. Uma formação não formal de imenso valor, considerando um mercado tão informal, tão subjetivo quanto o Tribal. Algo que dá a artista do estilo direcionamento e chão. Base para vôos mais altos como fusões e além... Cabe a mim, como formada, continuar a estudar e me desenvolver para fazer jus a minha formação de ATS®, assim como seria se fosse de Balé, Contemporânea, Flamenca, assim como é com a formação acadêmica. Sou eu quem faz o título, ou o título me faz? Através do conhecimento adquirido e meu próprio esforço direcionado, minha arte se faz.

É bom que alunas pensem nisto quando forem se inscrever num curso de formação: Não existe mágica! É bom que professoras pensem nisto ao vender seus cursos: É somente marketing.

Vamos, dançarinas... tolerância e respeito com a formação umas das outras. Não rasguemos os títulos de ninguém com palavras levianas. Não deixemos falsa impressão de superioridade auto didata. Cada uma com seu trabalho, mas todas precisamos umas das outras para o fortalecimento de individualidades de uma comunidade inteira!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O Estilo Tribal no Brasil


Falar de Tribal no Brasil, não é necessariamente igual a falar de “Tribal Brasil”. Muitos são os debates a respeito de uma Dança Tribal tupiniquim e suas influências já existem e podem ser tão grandes quanto a nossa cultura. Seria preciso um outro texto para refletir e abrir mais um debate a respeito deste inesgotável assunto. Esta parte do texto visa apresentar nomes de dançarinas e Cias de Dança, promotoras e estúdios além de alguns eventos de Dança Tribal que estão em atividade e também os que já não mais acontecem    no Brasil.

Shaide Halim
No Brasil, as pesquisas no estilo tiveram início na década de 2000. Shaide Halim, fundadora da Cia Halim de São Paulo foi a grande pioneira, trazendo dos Estados Unidos informações sobre ATS®, postura tribal e fusão, traçando sua própria linha de pesquisa que chamou de “Tribal Brasileiro”, bastante influenciada por Flamenco, Dança Indiana e Afro. Shaide ministrou muitos workhops e influenciou largamente muitas dançarinas que começavam seus estudos. 
Em 2007 aconteceu o II Encontro Internacional Bele Fusco em São Caetano do Sul – SP. Este evento foi decisivo para o fomento do interesse em Tribal no Brasil, com a primeira vinda da americana Sharon Kihara, na época integrante da Cia Bellydance Superstars. Neste período já existiam iniciativas de estudo espalhadas pelo Brasil, como a Cia Lunay na Paraíba, Nanda Najla em Belo Horizonte, Cia Xamã no Rio Grande do Norte, entre outras.

No Rio de Janeiro, a Escola de Dança Asmahan, foi a pioneira no ensino de Tribal, sua diretora Jhade Sharif e a professora Nadja El Balady se interessaram em difundir o estilo e fomentar o estudo a respeito do Tribal e com isso, em parceria, criaram o primeiro festival no Brasil dedicado exclusivamente ao estilo Tribal: “Festival Tribal do Rio – Tribes Brasil” que aconteceu em junho de 2008.


O festival foi um marco: profissionais de diversos estados brasileiros, estiveram na cidade nas edições 1, 2, 3e 4 em 2008, 2009, 2010 e 2011 respectivamente, trazendo suas criações, dando e fazendo aulas nas inúmeras oficinas dedicadas ao aprimoramento técnico das participantes do evento. Estiveram presentes representantes de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraíba e Rio Grande do Norte, assim como dançarinas de todo o estado do Rio de Janeiro. Em 2010 o festival contou com as  internacionais Isabel de Lorenzo (Itália) e Geneva Bybee (USA) de ATS® e Tribal Fusion. Em 2011 com Ariellah Aflalo entre outras bailarinas nacionais.

Nos anos de 2010 a 2011, no Rio de Janeiro, esteve em atividade a Cia de dança “Caballeras". O espetáculo de dança e música “Tribal Gênese” aconteceu como parceria da Cia de Dança "Caballeras" e a banda "C.O.M. Fusion" – Conspiração Oriente Metal Fusion. A vida da Cia foi breve, mas marcou a cena tribal brasileira com espetáculos inovadores de concepção estética única.

Em 2012 o Rio de Janeiro sediou a primeira edição brasileira do festival internacional "Gothla" de Dark Fusion com a participação de Ariellah (USA) e Morgana (ES).


“A Caravana Tribal Nordeste” é um festival itinerante de dança Tribal que une Cias de Dança e representantes do festival em algumas capitais do nordeste brasileiro, como Recife, Salvador, João Pessoa e Natal. Existente desde 2009, o festival tem sido definitivo para o largo fortalecimento da cena tribal nordestina. Trabalhos de excelente qualidade artística e profunda pesquisa na fusão do Tribal com as danças populares brasileiras de matriz nordestina. Kilma Farias, Alê Carvalho, Carol Monteiro, Bela Saffe, Cibelle Souza entre outras expoentes bailarinas e professoras se dividem entre as tarefas de organizar, ensinar, ensaiar, criar e produzir, fazendo acontecer em suas cidades grandes celebrações de arte. Além disto a Caravana já teve a participação de atrações internacionais como Mira Betz, Emine di Cosmo e Anasma. Em 2011, a "Cia Shaman" e a cidade de Natal se desligaram da Caravana para trabalhar no "Shaman’s Fest", festival internacional que já trouxe Mira Betz e Samantha Emanuel.

Kilma Farias
Eu diria ainda, que Kilma Farias mereceria um capítulo a parte, se este texto fosse um livro. Bailarina e produtora competente, já esteve a frente de inúmeros eventos pequenos e grandes, regionais e internacionais, fazendo parceria com todos os festivais e produtoras do Brasil. À frente da Cia e "Studio Lunay", Kilma tem muitas outras atividades e qualidades a serem mencionadas. Não caberiam em breves palavras neste texto.

Voltando nossos olhos para a cena de São Paulo, não é possível mencionar o início da trajetória do Tribal no Brasil sem citar o festival “II Encontro Internacional Bele Fusco” que em 2007 trouxe pela primeira vez Sharon Kihara (USA) ao Brasil. Posteriormente, 2008 com Kaeshi Chai (USA) e em 2009 com o festival "Tribal y Fusion". Em 2010, a Bele Fusco produziu o festival “Tribal Extreme” em parceria com Kilma Farias em João Pessoa (PB), que contou com a participação de Sharon Kihara. Aliás, nestes primeiros anos, Sharon Kihara foi a grande estrela presente na formação de todas as dançarinas, uma vez que a Bele Fusco produziu com ela diversas imersões e workshops. A Bele Fusco teve papel fundamental também organizando concursos que lançaram grandes nomes da dança atuais. A Cia “Dancers South America” (DSA) também é uma iniciativa da Bele Fusco e conseguiu reunir grandes coreógrafas e bailarinas para espetáculos memoráveis e experiências de grande valor.

É preciso destacar o festival “Tribal y Fusion” em 2009, como momento de revelação de diversas companhias de dança e bailarinas que hoje são de grande relevo no cenário nacional. Neste festival ministraram workshops Sharon Kihara (USA), Mardi Love (USA) e Ariellah (USA), Carlos Clark (MG), Mariana Quadros (SP), Carol Schavarosk (RJ), Nanda Najla (BH-MG) e Nadja el Balady (RJ).


O Festival Campo das Tribos, organizado por Rebeca Piñeiro, teve sua primeira e despretensiosa edição em 2009 e vem aos poucos tomando proporções belas em organização e desempenho. Principal evento de tribal da cidade de São Paulo, hoje caminha para se tornar um dos principais do país, atraindo participantes de todos os estados e importantes atrações internacionais. Trazendo em 2013 pela segunda vez a Lady Fred e pela primeira Kami Liddle. Ambas americanas.
Existem já diversos grupos de pesquisa em Tribal em São Paulo, bailarinas de excelente qualidade técnica, que têm difundido o estilo que cresce em boas proporções. “A Escola Campo das Tribos”, especializada em Tribal conta com um bom número das profissionais que fazem a diferença por lá.

ATS® e ITS no Brasil


No ano de 2009 nasceu no Rio de Janeiro a “Tribo Mozuna”, núcleo de bailarinas que se dedicam a estudar e praticar ATS® e que funciona como verdadeiro pólo difusor do estilo no Brasil. A Tribo têm como principal referência a Cia FatChance BellyDance® e teve orientação de Isabel de Lorenzo, credenciada como “Sister Studio” em Roma, Itália. A Tribo Mozuna mantém atividade constante, tendo levado o resultado de seus estudos a diversos festivais no Rio de Janeiro e outros estados. Em, 2012, suas diretoras Aline Muhana e Nadja El Balady se credenciaram como “FCBD® Sister Studio”, após passarem pelo treinamento completo de ATS® no Studio FCBD® em San Francisco, CA.


Isabel de Lorenzo
A primeira “FCBD® Sister Studio” brasileira foi Isabel De Lorenzo, que reside em Roma, Itália. Tem a oportunidade de difundir o ATS® entre diversos grupos e estudantes, aqui no Brasil. Diretora do grupo de ATS® “Carovana Tribale”, do estúdio de dança “San Lo' “e do “Roma Tribal Meeting”, festival de Tribal em Roma.
Mariana Quadros, também bailarina e professora de Tribal Fusion, foi a primeira brasileira residente no Brasil que tirou o certificado de “FCBD® Sister Studio” e fundou na época o grupo “Pandora”, com ATS® de excelente nível e bom gosto. Assim, como Isabel, ajudou com boas informações sobre ATS® diversos grupos e bailarinas brasileiras.
Atualmente, em 2012, mais sete brasileiras vieram credenciadas de San Francisco, e ávidas por empregar os conhecimentos em sua nova formação, são elas: Nadja El Balady, Aline Muhana, Rebeca Piñeiro, Renata Camargo, Valdi Lima, Mariana Esther e Lilian Kawatoko.
É interessante ressaltar que algumas Cias já existentes começam a adotar o ATS® como prática de estudo e criação, mesmo não sendo esta a sua base inicial de dança. É o caso da Cia Lunay e Aquarius Tribal Fusion. Várias outras cias começam a pipocar e a progredir, descobrindo e investindo na matriz do estilo, como o “Nomadic Tribal” e “Trupe Tribal Gaia”.
No mais...
É preciso destacar a presença de Nanda Najla (MG) e Kilma Farias (PB) como artistas convidadas no festival “Spirit of the Tribes” em 2009 e 2010, na Flórida - EUA, como comprovação da qualidade e da originalidade do Tribal desenvolvido no Brasil.

Seria muito importante falar de Cias e grupos de dança como Kalua, Kairós, Lunay, Xamã, Damballah, Ulan Daban, Aquarius Tribal Fusion, entre tantas outras... Seria importante falar de Paula Braz, Cibelle Souza, Gabriela Miranda, Yoli Mendez, Marília Lins, Jaqueline Lima, Joline Andrade, Talitha Menezes, Bia Vasconcelos e seu "Orient Fair", Rhada Naschpitz, Karine Xavier, Carol Schavarosk, Ana Harff, Karina Leiro, Bety Damballah, entre muitas outras pesquisadoras, bailarinas e bailarinos, professoras, organizadoras, escritoras de blog e criadoras do estilo que é tão novo quanto apaixonante...

Cia Xamã
Felizmente não é possível citar todos os nomes que fazem diferença na cena tribal do Brasil. Felizmente, porque são muitas. O texto acabaria por se tornar uma lista infindável de mini currículos com datas e nomes de festivais... Isso prova que o estilo está em franca expansão, buscando suas próprias questões e encontrando em suas artistas soluções e caminhos. Vida longa ao Tribal, ao Tribal no Brasil e à criação, ao diálogo e ao respeito entre criadoras e criadores ligados pela paixão de concretizar no mundo sua arte.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Pequeno histórico da Dança Tribal

Esta postagem é produto da revisão do texto da página de Tribal do meu site. Agora é dezembro de 2012, e acebei de voltar de San Francisco, onde pude completar o General Skills e o Teacher Training, cursos de formação do FatChance BellyDance®. Pude também fazer aulas de Tribal Fusion com professoras notáveis, além de respirar um pouco atmosfera artística na qual tiveram lugar tantos eventos importantes na recente trajetória desta fenomenal linha estética de dança.
Tendo vivido isto, e sabendo ser apenas o início da minha trajetória de desenvolvimento no Tribal, resolvi rever meus textos sob uma nova perspectiva.
Além desta, muitas postagens virão com informações teóricas, relatos e reflexões fruto de uma aventura linda, plena de intensas vivências ao lado de irmãs queridas da dança.

Pequeno histórico do Estilo Tribal
ATS® e Tribal Fusion

Bal Anat

Surgidas na década de 60, nos Estados Unidos, as primeiras ideias do que viria a se tornar o Estilo Tribal foram desenhadas pela artista Jamila Salimpour, fundadora da Cia de dança Bal Anat. Jamila criou um espetáculo multi étnico relacionado ao Oriente Médio, com representações de danças populares de povos nômades do norte da África, de países como Argélia, Tunísia e Egito.

San Francisco Classic Dance Troupe
Sendo divulgado nas décadas de 70 e 80, o formato Bal Anat foi imitado por todos os Estados Unidos. Algumas companhias de dança surgiram seguindo a mesma tendência. John Compton fundou o “Hahbi Ru Dance Ensemble” e Masha Archer fundou a “San Francisco Classic Dance Troupe”. Influenciada pelo trabalho de Jamila, Masha dizia simplesmente que seu trabalho era “Dança do Ventre”, admitindo e compreendendo que se apropriava de uma cultura diferente e fazia com ela o melhor que podia para agregar valor e arte às apresentações realizadas pelo grupo. Preocupava-se em elevar o nível da dança a patamares mais altos.


Bal Anat

San Francisco Classic Dance Troupe

Carolena Nericcio


Uma aluna de Masha teve papel definitivo na formação daquilo que veio a se chamar Estilo Tribal: Carolena Nericcio. Fundadora da Cia FatChance BellyDance®, Carolena criou, ao longo dos anos de trabalho, um método único de dança, unindo seu conhecimento anterior da dança do ventre que fazia com Masha a novos estudos no Flamenco e elementos de Dança Clássica Indiana. Construiu um vocabulário gestual próprio para criar uma linguagem dinâmica que pudesse funcionar no palco como um diálogo corporal entre as bailarinas, que pudesse ser espontâneo e que constantemente surpreendesse o público por sua naturalidade, beleza e expressão. A este método damos o nome de “Improvisação Coordenada”, que funciona como um sistema para que nas apresentações em grupo as dançarinas possam improvisar juntas em harmonia de movimentos. Este estilo foi nomeado, pela pesquisadora Moroco, de ATS® (American Tribal Style®), onde o processo de criação está atrelado ao improviso em grupo, mesclando elementos de um mesmo vocabulário e dinâmicas de grupo para resultar em performances vivas e espontâneas. A nomenclatura “Tribal” ganha conotação de tribo, grupo de pessoas unidas para realizar um processo de criação, unidas em um mesmo ideal.

Fat Chance Belly Dance

FCBD 1985

Ultra Gipsy
Assim como a Bal Anat, o estilo FatChance BellyDance® também influenciou inúmeras dançarinas e coreógrafas. Segundo Carolena, a transformação do estilo se originou de um grande telefone sem fio, desde o momento em que professoras de dança saíam de sua sala de aula e decidiam fazer diferente, criando novas trupes com estética baseada em ATS®, porém desenvolvidas a seu próprio modo.
Uma das notáveis teria sido Jill Parker, fundadora do Ultra Gipsy, que inovou decididamente a novíssima cena tribal americana.
Jill Parker misturava técnicas de Tribal com Burlesco, Flamenco e Cabaré. Permitia que as integrantes de seu grupo criassem peças coreográficas, alimentando o estilo com influências diversas.
Muitas famosas bailarinas de Tribal Fusion da atualidade integraram o Ultra Gipsy, entre elas, Rachel Brice, Sharon Kihara e Rose Harden.


Ultra Gipsy


Esta nova tendência desconstrói o sistema ATS®, retomando a possibilidade coreográfica completa e fundindo com novas ideias. A modalidade “Tribal Fusion” retira da postura e do vocabulário ATS® seu princípio e o transforma, acrescentando outras movimentações. Bases ocidentais com inspiração oriental traçam a ponte entre culturas em sinergia com o processo de globalização mundial.
Suhaila Salimpour
Segundo  Jasmine June, em artigo escrito para a revista “Guilded Serpent”, outro nome não pode deixar de ser mencionado quando o assunto são as origens do Tribal Fusion: Suhaila Salimpour. Diz Jasmine: “Ela é filha de Jamila Salimpour, e apesar de não ter sido membro do FatChance BellyDance® ou Ultra Gypsy, ela sofreu as mesmas influências que Carolena Nericcio e é algumas vezes referida como uma dançarina de Tribal Fusion. Sua técnica única e estilo de treinamento influenciou muitas dançarinas do ventre, incluindo aquelas que se classificam como Tribal Fusion.”


Rachel Brice

Poseteriormente, a Cia de dança BellyDance SuperStars projetou o novo estilo para todo o mundo e também seu nome mais relevante: Rachel Brice, fundadora da Cia “The Indigo”, juntamente com outros dois grandes ícones do “Tribal Fusion”: Mardi Love e Zoe Jakes.






O Estilo Tribal, portanto, se forma a partir da possibilidade de fusão de diversas referencias culturais em um mesmo espaço corpóreo, revelando a possibilidade de manifestação da diversidade cultural em uma só linguagem.
Interseções são encontradas para que os estilos dialoguem dentro de uma harmonia estética de movimentação, figurino e música. Dentro deste conceito, um grande “leque de opções” se abre a frente de quem pensa artisticamente este processo. A partir de então o conceito de fusão étnica transpõe as fronteiras do Oriente Médio e passa a incorporar elementos contemporâneos e até mesmo urbanos, nas criações de tribal. Fusão da técnica tribal com elementos de hip hop, street dance e break trouxeram nova roupagem ao estilo.


Fusão Afro
Podemos destacar alguns elementos  para que se estabeleçam temas, como por exemplo: Fusão Afro, Fusão Indiana, Fusão Brasil, Fusão Contemporânea, Fusão Rock, Dark, entre outras temáticas já abordadas por criadores do estilo.
Neste processo de fusão as fronteiras culturais se dissolvem de modo que artista e público podem estabelecer um novo olhar sobre os elementos explorados, valorizando as culturas, aproximando as raças e valorizando o ser humano de forma integral.
O pensamento artístico que produz o Estilo Tribal traz como resultado um processo de inovação estética em dança, figurino e música. Novas concepções de estilo são desenvolvidas em função de valorizar os aspectos estéticos de cada peça coreográfica, definindo a linha de pesquisa de cada grupo musical, de cada coreógrafo, de cada atelier e companhias de dança.