quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Formação em Dança

Reflexão feita a partir de recente debate no Facebook a respeito de cursos de formação em Dança Tribal.
Fui ao dicionário:
Formação
1 - Ato, efeito ou modo de forma, construir(algo); criação, construção, constituição.
2 - Maneira como uma pessoa é criada; Tudo que lhe molda o caráter, a personalidade;criação, origem, educação.
3 - Conjunto de conhecimentos e habilidades específicos a um campo de atividade prática ou intelectual.
4 - Conjunto dos cursos concluídos e graus obtidos por uma pessoa.
5 - Ato ou efeito de dar forma, modelagem.
etc...

A partir de então os significados ficam muito específicos em relação a biologia, geologia e até psicologia.

A princípio, o que nos interessa, é o significado da palavra em relação à educação, claramente em relação ao que forma uma dançarina e que de acordo com o dicionário, nos remete à definição 3: "Conjunto de conhecimentos e habilidades específicos a um campo de atividade prática ou intelectual." e 4:" Conjunto dos cursos concluídos e graus obtidos por uma pessoa."
Pois são as definições relacionadas à formação profissional.

Mas.. estamos falando da formação artística. E claramente um artista se utiliza muito mais do que conhecimento para alimentar a sua arte. Neste ponto, entra também a definição 2: "Maneira como uma pessoa é criada; Tudo que lhe molda o caráter, a personalidade;criação, origem, educação."

Claro que no caso da dançarina, criadora de suas próprias peças coreográficas, entrará em primeiro plano sua história corporal. Seu lugar de nascimento, sua genética. Aquilo que sua formação como pessoa lhe apresentou como cultura, o jeito de andar de seus semelhantes em comunidade, sua psiquê.  Tudo isto entra, em primeiro plano para determinar a maneira como uma artista vai se apropriar da ferramenta técnica e como vai devolvê-la ao mundo em forma de criação. Mas se não souber manejar determinado conjunto de conhecimentos, não terá sequer boa maneira de ser compreendida em sua expressão. A técnica, neste raciocínio, é a linguagem pela qual ela escolhe se expressar. Seu repertório de movimentos é seu vocabulário e a maneira como conecta um movimento ao outro é sua gramática. Seu fim: A expressão de suas ideias e / ou sentimentos sobre a vida, a realidade que a cerca e seu ponto de vista a respeito da própria dança. Quanto melhor se apropriar da técnica, melhor se expressará. Quanto melhor se informar, melhor clareza terá do que expressar.

Neste ponto, entram questões distintas do processo de formar... a formação técnica e preparação corporal e também o pensamento crítico a respeito do que se faz e porquê se faz.

No primeiro quesito, penso que antes de fazer Dança do Ventre, Tribal Fusion, Jazz, Balé, Contemporâneo, Fusão, Flamenco, Hip Hop, ou o que quer que seja, esta pessoa está fazendo DANÇA. E como tal, se faz necessário determinados fundamentos, comuns à todas as linhas estéticas de dança. Questões como controle do centro de força abdominal, eixo, equilíbrio, força e flexibilidade muscular, postura, expansão e ocupação do corpo no espaço...
Em segundo, vem a formação técnica na própria linha estética escolhida. No caso da dança do ventre, fusões e tribal, a técnica de quadril, trabalho de braços, ondulações e vocabulário específico.

No segundo quesito - aquilo que se faz em cena - encontramos o aspecto subjetivo e delicado. O que é bom ou ruim, julgamentos de valor... onde reside a arte e toda a sua magia e sua injustiça. Justo porque aquilo que forma a minha opinião é diferente do que forma a sua. Sua realidade é diferente da minha. Necessidades, desejos e conhecimentos também.
Pensar criticamente aquilo que se faz requer empenho... Conhecer os principais elementos históricos da   Dança, e da sua linha de dança. Conhecer o que fazem as pessoas que estão a sua volta, o que pensam as outras artistas da sua comunidade. Conhecer elementos culturais que levam as criações adiante.

Uma boa formadora não deveria se preocupar somente com a questão técnica. Em minha opinião, uma formadora deve se empenhar em apresentar textos, vídeos, histórias e exercícios que levem suas alunas à experiência do criar, do sentir, perceber e expressar.
A formação em dança é complexa e longa. Precisa de muitos anos de dedicação diária. Horas e horas por dia. Esta prática, obviamente, é mais importante do que qualquer diploma. Mas ter certificados e diplomas é importante no sentido de buscar orientação. Porque um bom artista deve ter um professor. Para orientar e corrigir. Ser auto didata é cruel. É preciso muito auto conhecimento e mesmo assim, nunca temos olhos para questões de erros que seriam facilmente corrigidos pelo olhar do outro. O outro nos ajuda a olhar dentro de nós mesmas. Todas as profissões têm professores regulares. Por que não a Dança Oriental?
Ainda assim, o professor, apesar de determinante, não tem papel exclusivo na sua formação. Seu principal material é você mesma. Seus desejos e possibilidades dentro da dança.
Fazer a faculdade de dança, pesquisar a história da dança e se perguntar por novos caminhos dentro da dança é muito bom. O contato com linhas estéticas diferentes abre os olhos, amplia os horizontes artísticos. Te dá uma formação embasada naquilo que vem sendo pensado e praticado há séculos em termos de dança. Uma formação formal, de imenso valor. Mas... Isto partindo do princípio que você já escolheu a sua linha estética de atuação. No nosso caso, a Dança Oriental.

Mas e no caso dos cursos sem reconhecimento pelo MEC? Como ver a formação de dançarinas?
As aulas regulares, quase todas sem reconhecimento de instituição alguma, são o principal contato da aspirante à arte. É através desta janela que ela vai perceber no seu cotidiano como a dança afeta sua vida, seu ser. Por isto, o local principal de sua formação. Workshops são essenciais para complementar esta formação, ampliando repertório, pontos de vista e informações. São importantes, sobre tudo para quem já é professora, para sua reciclagem e aprimoramento. Sem os workshops, a cena de dança oriental no Brasil estaria ainda muito aquém do que chegou. E do que pode chegar.
Mas o que seria um curso de formação, que não é aula regular e não é workshop?

Na verdade, vejo este tipo de prática como um grande apoio à formação principal. É onde o professor vai dispôr de um conteúdo programático que exponha sua metodologia de formação, seu ponto de vista  e seu material. Pode ser muito bom. Mas a verdade é que este tipo de curso nunca ocupará o lugar da aula regular. A verdadeira preparação corporal é diária. É preciso que a aluna tenha a bagagem da aula regular, sua formação principal. As questões essenciais do ato de dançar não podem ser plenamente desenvolvidas em poucas horas. Não existe milagre. É preciso que a aluna tenha a força de vontade de treinar por conta própria, se não, não vai alcançar o seu objetivo técnico na dança. Acho que o justo seria chamar de curso complementar à formação.

Acho que agora vem a parte do marketing e sobrevivência na dança... Honestamente... quem quer se inscrever em um Curso de Complementação à Formação em Dança Oriental? A pessoa quer saber que vai sair de lá formada! Quer comprar o pozinho de pirlimpimpim, a palavra mágica, quer achar que vai completar o curso dançando igual a professora.
Eu ministro um Curso Profissionalizante em Dança do Ventre. Claro que isto é o que eu quero que ele seja. Quero que um dia tenha reconhecimento oficial e diploma. Encaminhar minhas formadas ao ministério do trabalho. Mas por enquanto... não dá. Ainda não é possível. Mas não se trata de iludir minha alunas. Afinal, dou de mim o melhor e apresento o melhor do meu método em eterna transformação e expansão, onde eu, com meus parcos recursos, continuo a investir. E elas saem de lá melhor tecnicamente do que entraram, com confiança e processo artístico delineado. Prontas para encontrarem sozinhas seu próprio caminho de formação. Digo sempre no fim do curso: Agora é que começa!
Mas se eu não vende-lo como um curso profissionalizante, não vou ter o grupo de alunas com a base e o nível de interesse que preciso para que um dia este curso se torne formal. Afinal... não brota do nada! O próprio curso tem sua trajetória de amadurecimento perante o mercado.

Da mesma forma, no Tribal, a formação em ATS® do FCBD® não é reconhecida por nenhuma instituição de ensino. Mas se trata do método e da história artística de quem participou efetivamente da concepção do estilo. Uma formação não formal de imenso valor, considerando um mercado tão informal, tão subjetivo quanto o Tribal. Algo que dá a artista do estilo direcionamento e chão. Base para vôos mais altos como fusões e além... Cabe a mim, como formada, continuar a estudar e me desenvolver para fazer jus a minha formação de ATS®, assim como seria se fosse de Balé, Contemporânea, Flamenca, assim como é com a formação acadêmica. Sou eu quem faz o título, ou o título me faz? Através do conhecimento adquirido e meu próprio esforço direcionado, minha arte se faz.

É bom que alunas pensem nisto quando forem se inscrever num curso de formação: Não existe mágica! É bom que professoras pensem nisto ao vender seus cursos: É somente marketing.

Vamos, dançarinas... tolerância e respeito com a formação umas das outras. Não rasguemos os títulos de ninguém com palavras levianas. Não deixemos falsa impressão de superioridade auto didata. Cada uma com seu trabalho, mas todas precisamos umas das outras para o fortalecimento de individualidades de uma comunidade inteira!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O Estilo Tribal no Brasil


Falar de Tribal no Brasil, não é necessariamente igual a falar de “Tribal Brasil”. Muitos são os debates a respeito de uma Dança Tribal tupiniquim e suas influências já existem e podem ser tão grandes quanto a nossa cultura. Seria preciso um outro texto para refletir e abrir mais um debate a respeito deste inesgotável assunto. Esta parte do texto visa apresentar nomes de dançarinas e Cias de Dança, promotoras e estúdios além de alguns eventos de Dança Tribal que estão em atividade e também os que já não mais acontecem    no Brasil.

Shaide Halim
No Brasil, as pesquisas no estilo tiveram início na década de 2000. Shaide Halim, fundadora da Cia Halim de São Paulo foi a grande pioneira, trazendo dos Estados Unidos informações sobre ATS®, postura tribal e fusão, traçando sua própria linha de pesquisa que chamou de “Tribal Brasileiro”, bastante influenciada por Flamenco, Dança Indiana e Afro. Shaide ministrou muitos workhops e influenciou largamente muitas dançarinas que começavam seus estudos. 
Em 2007 aconteceu o II Encontro Internacional Bele Fusco em São Caetano do Sul – SP. Este evento foi decisivo para o fomento do interesse em Tribal no Brasil, com a primeira vinda da americana Sharon Kihara, na época integrante da Cia Bellydance Superstars. Neste período já existiam iniciativas de estudo espalhadas pelo Brasil, como a Cia Lunay na Paraíba, Nanda Najla em Belo Horizonte, Cia Xamã no Rio Grande do Norte, entre outras.

No Rio de Janeiro, a Escola de Dança Asmahan, foi a pioneira no ensino de Tribal, sua diretora Jhade Sharif e a professora Nadja El Balady se interessaram em difundir o estilo e fomentar o estudo a respeito do Tribal e com isso, em parceria, criaram o primeiro festival no Brasil dedicado exclusivamente ao estilo Tribal: “Festival Tribal do Rio – Tribes Brasil” que aconteceu em junho de 2008.


O festival foi um marco: profissionais de diversos estados brasileiros, estiveram na cidade nas edições 1, 2, 3e 4 em 2008, 2009, 2010 e 2011 respectivamente, trazendo suas criações, dando e fazendo aulas nas inúmeras oficinas dedicadas ao aprimoramento técnico das participantes do evento. Estiveram presentes representantes de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraíba e Rio Grande do Norte, assim como dançarinas de todo o estado do Rio de Janeiro. Em 2010 o festival contou com as  internacionais Isabel de Lorenzo (Itália) e Geneva Bybee (USA) de ATS® e Tribal Fusion. Em 2011 com Ariellah Aflalo entre outras bailarinas nacionais.

Nos anos de 2010 a 2011, no Rio de Janeiro, esteve em atividade a Cia de dança “Caballeras". O espetáculo de dança e música “Tribal Gênese” aconteceu como parceria da Cia de Dança "Caballeras" e a banda "C.O.M. Fusion" – Conspiração Oriente Metal Fusion. A vida da Cia foi breve, mas marcou a cena tribal brasileira com espetáculos inovadores de concepção estética única.

Em 2012 o Rio de Janeiro sediou a primeira edição brasileira do festival internacional "Gothla" de Dark Fusion com a participação de Ariellah (USA) e Morgana (ES).


“A Caravana Tribal Nordeste” é um festival itinerante de dança Tribal que une Cias de Dança e representantes do festival em algumas capitais do nordeste brasileiro, como Recife, Salvador, João Pessoa e Natal. Existente desde 2009, o festival tem sido definitivo para o largo fortalecimento da cena tribal nordestina. Trabalhos de excelente qualidade artística e profunda pesquisa na fusão do Tribal com as danças populares brasileiras de matriz nordestina. Kilma Farias, Alê Carvalho, Carol Monteiro, Bela Saffe, Cibelle Souza entre outras expoentes bailarinas e professoras se dividem entre as tarefas de organizar, ensinar, ensaiar, criar e produzir, fazendo acontecer em suas cidades grandes celebrações de arte. Além disto a Caravana já teve a participação de atrações internacionais como Mira Betz, Emine di Cosmo e Anasma. Em 2011, a "Cia Shaman" e a cidade de Natal se desligaram da Caravana para trabalhar no "Shaman’s Fest", festival internacional que já trouxe Mira Betz e Samantha Emanuel.

Kilma Farias
Eu diria ainda, que Kilma Farias mereceria um capítulo a parte, se este texto fosse um livro. Bailarina e produtora competente, já esteve a frente de inúmeros eventos pequenos e grandes, regionais e internacionais, fazendo parceria com todos os festivais e produtoras do Brasil. À frente da Cia e "Studio Lunay", Kilma tem muitas outras atividades e qualidades a serem mencionadas. Não caberiam em breves palavras neste texto.

Voltando nossos olhos para a cena de São Paulo, não é possível mencionar o início da trajetória do Tribal no Brasil sem citar o festival “II Encontro Internacional Bele Fusco” que em 2007 trouxe pela primeira vez Sharon Kihara (USA) ao Brasil. Posteriormente, 2008 com Kaeshi Chai (USA) e em 2009 com o festival "Tribal y Fusion". Em 2010, a Bele Fusco produziu o festival “Tribal Extreme” em parceria com Kilma Farias em João Pessoa (PB), que contou com a participação de Sharon Kihara. Aliás, nestes primeiros anos, Sharon Kihara foi a grande estrela presente na formação de todas as dançarinas, uma vez que a Bele Fusco produziu com ela diversas imersões e workshops. A Bele Fusco teve papel fundamental também organizando concursos que lançaram grandes nomes da dança atuais. A Cia “Dancers South America” (DSA) também é uma iniciativa da Bele Fusco e conseguiu reunir grandes coreógrafas e bailarinas para espetáculos memoráveis e experiências de grande valor.

É preciso destacar o festival “Tribal y Fusion” em 2009, como momento de revelação de diversas companhias de dança e bailarinas que hoje são de grande relevo no cenário nacional. Neste festival ministraram workshops Sharon Kihara (USA), Mardi Love (USA) e Ariellah (USA), Carlos Clark (MG), Mariana Quadros (SP), Carol Schavarosk (RJ), Nanda Najla (BH-MG) e Nadja el Balady (RJ).


O Festival Campo das Tribos, organizado por Rebeca Piñeiro, teve sua primeira e despretensiosa edição em 2009 e vem aos poucos tomando proporções belas em organização e desempenho. Principal evento de tribal da cidade de São Paulo, hoje caminha para se tornar um dos principais do país, atraindo participantes de todos os estados e importantes atrações internacionais. Trazendo em 2013 pela segunda vez a Lady Fred e pela primeira Kami Liddle. Ambas americanas.
Existem já diversos grupos de pesquisa em Tribal em São Paulo, bailarinas de excelente qualidade técnica, que têm difundido o estilo que cresce em boas proporções. “A Escola Campo das Tribos”, especializada em Tribal conta com um bom número das profissionais que fazem a diferença por lá.

ATS® e ITS no Brasil


No ano de 2009 nasceu no Rio de Janeiro a “Tribo Mozuna”, núcleo de bailarinas que se dedicam a estudar e praticar ATS® e que funciona como verdadeiro pólo difusor do estilo no Brasil. A Tribo têm como principal referência a Cia FatChance BellyDance® e teve orientação de Isabel de Lorenzo, credenciada como “Sister Studio” em Roma, Itália. A Tribo Mozuna mantém atividade constante, tendo levado o resultado de seus estudos a diversos festivais no Rio de Janeiro e outros estados. Em, 2012, suas diretoras Aline Muhana e Nadja El Balady se credenciaram como “FCBD® Sister Studio”, após passarem pelo treinamento completo de ATS® no Studio FCBD® em San Francisco, CA.


Isabel de Lorenzo
A primeira “FCBD® Sister Studio” brasileira foi Isabel De Lorenzo, que reside em Roma, Itália. Tem a oportunidade de difundir o ATS® entre diversos grupos e estudantes, aqui no Brasil. Diretora do grupo de ATS® “Carovana Tribale”, do estúdio de dança “San Lo' “e do “Roma Tribal Meeting”, festival de Tribal em Roma.
Mariana Quadros, também bailarina e professora de Tribal Fusion, foi a primeira brasileira residente no Brasil que tirou o certificado de “FCBD® Sister Studio” e fundou na época o grupo “Pandora”, com ATS® de excelente nível e bom gosto. Assim, como Isabel, ajudou com boas informações sobre ATS® diversos grupos e bailarinas brasileiras.
Atualmente, em 2012, mais sete brasileiras vieram credenciadas de San Francisco, e ávidas por empregar os conhecimentos em sua nova formação, são elas: Nadja El Balady, Aline Muhana, Rebeca Piñeiro, Renata Camargo, Valdi Lima, Mariana Esther e Lilian Kawatoko.
É interessante ressaltar que algumas Cias já existentes começam a adotar o ATS® como prática de estudo e criação, mesmo não sendo esta a sua base inicial de dança. É o caso da Cia Lunay e Aquarius Tribal Fusion. Várias outras cias começam a pipocar e a progredir, descobrindo e investindo na matriz do estilo, como o “Nomadic Tribal” e “Trupe Tribal Gaia”.
No mais...
É preciso destacar a presença de Nanda Najla (MG) e Kilma Farias (PB) como artistas convidadas no festival “Spirit of the Tribes” em 2009 e 2010, na Flórida - EUA, como comprovação da qualidade e da originalidade do Tribal desenvolvido no Brasil.

Seria muito importante falar de Cias e grupos de dança como Kalua, Kairós, Lunay, Xamã, Damballah, Ulan Daban, Aquarius Tribal Fusion, entre tantas outras... Seria importante falar de Paula Braz, Cibelle Souza, Gabriela Miranda, Yoli Mendez, Marília Lins, Jaqueline Lima, Joline Andrade, Talitha Menezes, Bia Vasconcelos e seu "Orient Fair", Rhada Naschpitz, Karine Xavier, Carol Schavarosk, Ana Harff, Karina Leiro, Bety Damballah, entre muitas outras pesquisadoras, bailarinas e bailarinos, professoras, organizadoras, escritoras de blog e criadoras do estilo que é tão novo quanto apaixonante...

Cia Xamã
Felizmente não é possível citar todos os nomes que fazem diferença na cena tribal do Brasil. Felizmente, porque são muitas. O texto acabaria por se tornar uma lista infindável de mini currículos com datas e nomes de festivais... Isso prova que o estilo está em franca expansão, buscando suas próprias questões e encontrando em suas artistas soluções e caminhos. Vida longa ao Tribal, ao Tribal no Brasil e à criação, ao diálogo e ao respeito entre criadoras e criadores ligados pela paixão de concretizar no mundo sua arte.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Pequeno histórico da Dança Tribal

Esta postagem é produto da revisão do texto da página de Tribal do meu site. Agora é dezembro de 2012, e acebei de voltar de San Francisco, onde pude completar o General Skills e o Teacher Training, cursos de formação do FatChance BellyDance®. Pude também fazer aulas de Tribal Fusion com professoras notáveis, além de respirar um pouco atmosfera artística na qual tiveram lugar tantos eventos importantes na recente trajetória desta fenomenal linha estética de dança.
Tendo vivido isto, e sabendo ser apenas o início da minha trajetória de desenvolvimento no Tribal, resolvi rever meus textos sob uma nova perspectiva.
Além desta, muitas postagens virão com informações teóricas, relatos e reflexões fruto de uma aventura linda, plena de intensas vivências ao lado de irmãs queridas da dança.

Pequeno histórico do Estilo Tribal
ATS® e Tribal Fusion

Bal Anat

Surgidas na década de 60, nos Estados Unidos, as primeiras ideias do que viria a se tornar o Estilo Tribal foram desenhadas pela artista Jamila Salimpour, fundadora da Cia de dança Bal Anat. Jamila criou um espetáculo multi étnico relacionado ao Oriente Médio, com representações de danças populares de povos nômades do norte da África, de países como Argélia, Tunísia e Egito.

San Francisco Classic Dance Troupe
Sendo divulgado nas décadas de 70 e 80, o formato Bal Anat foi imitado por todos os Estados Unidos. Algumas companhias de dança surgiram seguindo a mesma tendência. John Compton fundou o “Hahbi Ru Dance Ensemble” e Masha Archer fundou a “San Francisco Classic Dance Troupe”. Influenciada pelo trabalho de Jamila, Masha dizia simplesmente que seu trabalho era “Dança do Ventre”, admitindo e compreendendo que se apropriava de uma cultura diferente e fazia com ela o melhor que podia para agregar valor e arte às apresentações realizadas pelo grupo. Preocupava-se em elevar o nível da dança a patamares mais altos.


Bal Anat

San Francisco Classic Dance Troupe

Carolena Nericcio


Uma aluna de Masha teve papel definitivo na formação daquilo que veio a se chamar Estilo Tribal: Carolena Nericcio. Fundadora da Cia FatChance BellyDance®, Carolena criou, ao longo dos anos de trabalho, um método único de dança, unindo seu conhecimento anterior da dança do ventre que fazia com Masha a novos estudos no Flamenco e elementos de Dança Clássica Indiana. Construiu um vocabulário gestual próprio para criar uma linguagem dinâmica que pudesse funcionar no palco como um diálogo corporal entre as bailarinas, que pudesse ser espontâneo e que constantemente surpreendesse o público por sua naturalidade, beleza e expressão. A este método damos o nome de “Improvisação Coordenada”, que funciona como um sistema para que nas apresentações em grupo as dançarinas possam improvisar juntas em harmonia de movimentos. Este estilo foi nomeado, pela pesquisadora Moroco, de ATS® (American Tribal Style®), onde o processo de criação está atrelado ao improviso em grupo, mesclando elementos de um mesmo vocabulário e dinâmicas de grupo para resultar em performances vivas e espontâneas. A nomenclatura “Tribal” ganha conotação de tribo, grupo de pessoas unidas para realizar um processo de criação, unidas em um mesmo ideal.

Fat Chance Belly Dance

FCBD 1985

Ultra Gipsy
Assim como a Bal Anat, o estilo FatChance BellyDance® também influenciou inúmeras dançarinas e coreógrafas. Segundo Carolena, a transformação do estilo se originou de um grande telefone sem fio, desde o momento em que professoras de dança saíam de sua sala de aula e decidiam fazer diferente, criando novas trupes com estética baseada em ATS®, porém desenvolvidas a seu próprio modo.
Uma das notáveis teria sido Jill Parker, fundadora do Ultra Gipsy, que inovou decididamente a novíssima cena tribal americana.
Jill Parker misturava técnicas de Tribal com Burlesco, Flamenco e Cabaré. Permitia que as integrantes de seu grupo criassem peças coreográficas, alimentando o estilo com influências diversas.
Muitas famosas bailarinas de Tribal Fusion da atualidade integraram o Ultra Gipsy, entre elas, Rachel Brice, Sharon Kihara e Rose Harden.


Ultra Gipsy


Esta nova tendência desconstrói o sistema ATS®, retomando a possibilidade coreográfica completa e fundindo com novas ideias. A modalidade “Tribal Fusion” retira da postura e do vocabulário ATS® seu princípio e o transforma, acrescentando outras movimentações. Bases ocidentais com inspiração oriental traçam a ponte entre culturas em sinergia com o processo de globalização mundial.
Suhaila Salimpour
Segundo  Jasmine June, em artigo escrito para a revista “Guilded Serpent”, outro nome não pode deixar de ser mencionado quando o assunto são as origens do Tribal Fusion: Suhaila Salimpour. Diz Jasmine: “Ela é filha de Jamila Salimpour, e apesar de não ter sido membro do FatChance BellyDance® ou Ultra Gypsy, ela sofreu as mesmas influências que Carolena Nericcio e é algumas vezes referida como uma dançarina de Tribal Fusion. Sua técnica única e estilo de treinamento influenciou muitas dançarinas do ventre, incluindo aquelas que se classificam como Tribal Fusion.”


Rachel Brice

Poseteriormente, a Cia de dança BellyDance SuperStars projetou o novo estilo para todo o mundo e também seu nome mais relevante: Rachel Brice, fundadora da Cia “The Indigo”, juntamente com outros dois grandes ícones do “Tribal Fusion”: Mardi Love e Zoe Jakes.






O Estilo Tribal, portanto, se forma a partir da possibilidade de fusão de diversas referencias culturais em um mesmo espaço corpóreo, revelando a possibilidade de manifestação da diversidade cultural em uma só linguagem.
Interseções são encontradas para que os estilos dialoguem dentro de uma harmonia estética de movimentação, figurino e música. Dentro deste conceito, um grande “leque de opções” se abre a frente de quem pensa artisticamente este processo. A partir de então o conceito de fusão étnica transpõe as fronteiras do Oriente Médio e passa a incorporar elementos contemporâneos e até mesmo urbanos, nas criações de tribal. Fusão da técnica tribal com elementos de hip hop, street dance e break trouxeram nova roupagem ao estilo.


Fusão Afro
Podemos destacar alguns elementos  para que se estabeleçam temas, como por exemplo: Fusão Afro, Fusão Indiana, Fusão Brasil, Fusão Contemporânea, Fusão Rock, Dark, entre outras temáticas já abordadas por criadores do estilo.
Neste processo de fusão as fronteiras culturais se dissolvem de modo que artista e público podem estabelecer um novo olhar sobre os elementos explorados, valorizando as culturas, aproximando as raças e valorizando o ser humano de forma integral.
O pensamento artístico que produz o Estilo Tribal traz como resultado um processo de inovação estética em dança, figurino e música. Novas concepções de estilo são desenvolvidas em função de valorizar os aspectos estéticos de cada peça coreográfica, definindo a linha de pesquisa de cada grupo musical, de cada coreógrafo, de cada atelier e companhias de dança.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A evolução da dança do ventre no Egito: Dos Cassinos aos dias atuais.


A pesquisa
Muitas pesquisas já forma realizadas sobre as origens da dança do ventre. Alguns pesquisadores encontram vestígios de danças sagradas e ligadas a ritos de fertilidade em civilizações muito antigas, em diversas partes do mundo. A maioria delas ligadas à culturas pagãs da antiguidade, como da Babilônia, Assíria, Egito faraônico, entre outras.
Nossa pesquisa vai se basear em documentos escritos, com descrições a respeito da dança por pessoas que presenciaram pessoalmente estas apresentações e se preocuparam em relata – las a outras pessoas. Muitos destes relatos começam a serem escritos em 1798, com a ocupação francesa no Egito, por Napoleão Bonaparte. Junto com os soldados de Napoleão, pesquisadores franceses entraram no Egito, interessados em aprender sobre sua cultura e sua riqueza. Muito se surpreenderam com a riqueza cultural e com sua dança tão exótica e livre.

No princípio era o Baladi
É preciso entender que a dança que conhecemos como dança do ventre é uma dança cênica, artística, de palco, que teve origem na tradição popular e na maneira popular de inserção profissional desta dança na sociedade egípcia. Raks baladi é a dança popular como o samba é a dança popular do Rio de Janeiro.





Descreveram os europeus dois tipos de dançarinas profissionais no final do século XVIII.
As “Awalin”, palavra que significa “alma”, eram mulheres de haréns (no sentido da parte feminina da casa árabe, não de concubina) especializadas em tocar, dançar, cantar e compor. Eram as únicas mulheres a quem era dado o direito de aprender a ler e escrever.
Estas mulheres eram de alta classe social e eram responsáveis pela organização das festividades femininas do casamento e eram freqüentemente contratadas para isso.
Existiam ainda “Awalin” de famílias menos abastadas. Contratadas para festividades mais humildes.





Existiam também as dançarinas de rua, chamadas de “Ghawazy”, palavra que é o plural de “ghazyia” que significa “dançarina”. Tratavam – se de clãs familiares, entre homens e mulheres, dedicados à arte popular, se apresentando nas ruas, “passando o chapéu” para arrecadar dinheiro. Não só as mulheres se apresentavam, como também os homens que tocavam e dançavam. Muitas apresentações de dança eram intercaladas com números circenses de equilibrismos e malabarismos.
As mulheres “ghawazy” são a imagem da origem da dança do ventre, tendo sido retratadas em muitos quadros, por diversos artistas no século XIX.

Por sua origem nômade e humilde, algumas destas mulheres acumulavam funções de prostitutas, e se aproximavam dos acampamentos franceses no início do século XIX, para cativar fregueses. Por isso Napoleão mandou matar mais de 400 “Ghawazy” e joga – las no Nilo.


Princess Rajaa - Apresentação em 1904


Kharya Maazin - Ghawazy na atualidade

2 - A Era de ouro da dança egípcia: Cassinos e Cinema
No final do século XIX e princípio do XX, temos no Egito uma grande revolução social, acompanhando a revolução industrial que movimentava todo o mundo ocidental. Neste período, o Egito foi social e economicamente dirigido pela Inglaterra, que levou para o Cairo muitos estrangeiros, investidores, arqueólogos e pesquisadores, além de inovações tecnológicas como a fotografia e o cinema.
Neste período, a cena cultural do Cairo muito se desenvolveu a exemplo de como era a própria cena cultural do Rio de Janeiro: Muitos cassinos e casas de espetáculos atraíam não só os estrangeiros, como os próprios egípcios negociantes e residentes na capital.

Tahya Karioka - cabaret

Neste contexto, surge a primeira das grandes estrelas do cinema egípcio: Badia Massabni, libanesa, cedo deixa o cinema para abrir o famoso Cassino Badia e também o Cassino Ópera do Cairo.
Este foi a mais importante casa dedicada a espetáculos no Cairo. Por ela passaram grandes estrelas do cinema como, Naima Akef, Tahya Karioca, Samya Gamal, e grandes músicos como Farid Al Atrche, Mohamed Abdel Wahad e Abdul Halim Hafez.
O Cassino foi palco também de diversas companhias ocidentais de dança, que influenciaram também o modo de dançar das egípcias.
Naima Akef - Dança Popular 

O cinema egípcio teve grande importância na divulgação da dança do ventre pelo mundo árabe e foi grandemente divulgada para o ocidente por Hollywood.
Muitas cenas de cinema retratavam o ambiente cultural do Cairo, com suas casas de show e festividades em praça pública. Muitas ainda mostravam cenas de dança em casamentos e também a dança em cenas de casais.
Samia Gamal - Grande espetáculo - Cassino

Tecnicamente, vale dizer que a dança sofreu grande transformação neste período. Deixando as casas e as ruas e se elevando ao palco, esta dança precisou também refinar – se e adquirir postura cênica. Novos movimentos foram incluídos na movimentação cênica, inspirados nos movimentos de ballet: o arabesque, a movimentação de braços e giros, que antes não eram executados, tendo no balady popular, a movimentação muito concentrada no quadril.
Samia Gamal - Cinema Estilo hollyoowdiano

Desde então, a dança segue seu caminho de evolução, rumo ao refinamento técnico e grandiosidade de espetáculo que podemos apreciar hoje em dia.
Vele a pena estudar e entender a trajetória desta arte no Egito e no mundo ocidental. 

3 - Mahmoud Reda  /  Farida Fahmy
Mahmoud Reda é um grande marco da história da dança cênica egípcia. Este grande coreógrafo foi ator e dançarino com grandes participações no cinema e na TV com sua "Reda Trupe" e a primeira bailarina Farida Mahmy.
Reda e Farida

Não há como falar da história da dança egípcia sem mencionar seu trabalho. Reda "reinventou" a dança popular egípcia, tendo feito pesquisa de movimento e contexto social em diversas áreas do Egito, trazendo ao teatro, cinema e TV muitas coreografias inspiradas na movimentação genuína das tradições populares egípcias, revelando ao próprio egípcio, e ao mundo, sua cultura e sua terra.
Vale dizer que Reda nunca abriu mão de seu próprio estilo, mesmo nas composições folclóricas. Suas coreografias estão recheadas de arabesques, giros, saltos e movimentações refinadas de braços e pernas, que mistura à movimentação típica de cada dança representada.



Foram inventados por ele alguns estilos de dança largamente executados como dança egípcia mundo afora: Melea Laff - representação da antiga mulher alexandrina ou do subúrbio do Cairo, que usava este item tradicional de vestimenta. Não existe uma dança do melea, mas sim a dança cênica que representa este personagem - A mulher egípcia que usa melea.



Mwuashahat - Reda trabalhou sobre um estilo de música muito antigo, mas muito vivo na tradição musical erudita do Egito. Criou muitas peças destinadas à TV e ao teatro. Com vasto vocabulário vindo do balé clássico, este estilo de dança influenciou o que vamos chamar de "Dança Oriental Clássica", reafirmando o papel do balé em uma dança egípcia refinada e de conceito artístico elevado. Pouco trabalho de quadril, muita dinâmica entre os bailarinos e coreografias elaboradas.



4 - Estrelas inesquecíveis
A partir da década de 70, a Dança Egípcia ganha estrelas cada vez mais importantes. Todas grandes dançarinas e estrelas do cinema.
Nagwa Fuad foi um marco como bailarina e produtora, pois inseriu a Dança nos hotéis 5 estrelas e inovou em termos de figurino, cenário e orquestram transformando o show de dança em espetáculo grandioso.
Nagwa - Rotina Oriental  - clip para TV

Nagwa e sua grande banda

Nagwa Fuad e Fifi Abdo no mesmo filme!
(Nagwa é a convidada ruiva e a Fifi a dançarina quase pelada!)

Fifi Abdo é a dona dos quadris mais poderosos da história da dança do ventre!!! Musa inspiradora, a verdadeira Ma'alimah encarnada, a rainha do baladi! Baladi = Fifi. Esta, decididamente não dançava dança oriental clássica. Estilo de dança altamente popular, até mesmo quando decide dançar um rotina oriental, seu estilo baladi é marcante.
Fifi dança rotina oriental

Fifi - Performance balady

Suheir Zaki, foi a mais doce das grandes estrlas das décadas de 70 e 80. Foi ela quem inseriu a interpretação dos grandes clássicos de Om Kalsoum  (Tarab) nos espetáculos de dança. Idolatrada até hoje, Suheir Zaki teve uma técnica muito tanto própria e marcante como suave e encantadora.

Suheir Zaki dança Leylet Hob

 Da década de 80 surgiu uma das maiores estrelas da dança egípcia ainda atuantes hoje em dia: A lenda viva Lucy - Herdeira da Era de Ouro e dona de seu próprio Cabaré no cairo - em seus vídeos podemos avaliar claramente a mudança que a dança egípcia toma com a globalização, internet e maior presença das bailarinas estrangeiras no Cairo.
Lucy - Antes

Lucy - Depois

Dina é com certeza o marco maior da dança do ventre egípcia atual - sinônimo de popularidade, riqueza e inovação. Seu estilo de dança é tão marcante quanto os figurinos que escolhe para usar. Ela mesmo pensa os figurinos, assim como coreografa suas músicas com rigor. Tudo nela é marketing e personalidade. Imitada pelas bailarinas do mundo inteiro, sua técnica é única e sua expressão muito apurada.






5 - Grande referência da atualidade, no Egito, Randa Kamel :



Com o crescente radicalismo do Islã dentro do Egito, cada vez menos egípcias dançam, abrindo mercado para as estrangeiras que buscam na terra da dança do ventre, seu caminho profissional. Algumas se tornam famosas e reconhecidas pelo próprio povo egípcio, como a caso de Soraia - Brasileira e Asmahan - Argentina. Muitas outras já trilharam este mesmo caminho como Sahra Saeda - inglesa e Nur - russa.

Soraia Zaied

6 - Os grandes festivais

Atualmente o Egito abre um novo campo de trabalho para aqueles que vivem de dança lá. A partir os anos 2000 milhares de dançarinas estrangeiras em busca de conhecimento e novas oportunidades de trabalho.
A pioneira, mais reconhecida professora, coreógrafa e produtora é Raqia Hassan, do festival Ahlan wa Sahlan. Multiplicam - se profissionais, coreógrafos e bailarinas descobertas neste festivais para o mundo.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

2º lugar com muito orgulho!

Por que uma bailarina com experiência internacional, reconhecida no mercado carioca como renomada formadora de outras profissionais, com 15 anos de carreira, produtora de grandes festivais e eventos dedicados ao desenvolvimento da dança oriental se juntaria à outras bailarinas, em sua maioria menos experientes, para concorrer em uma categoria do festival onde poderia possivelmente estar na banca julgadora?
Por que arriscar não ficar em 1º lugar? O que as pessoas diriam?! E o nome do studio? E a minha reputação?!
Já desde o início do ano que venho refletindo a respeito da máscara que vestimos em nome do marketing. Diversos acontecimentos me levaram a gritar: "Ei! Sabe o que é Nadja El Balady"? Um nome fantasia... vazio se não for o ser humano que o passa preencher. Assim como todas as grandes estrelas da Dança do Ventre ou da Dança Tribal. Assim como todas as grandes estrelas da Globo ou da Música. Assim como todas as grandes estrelas de Hollywood. Seres Humanos. Que mijam, comem, ficam doentes e estão em busca de realização e são carentes de reconhecimento e amor como todos os reles mortais. Somos todos iguais. Mesmo.

Enquanto Nadja - a bailarina - reconheço estar em um patamar ainda aquém de minhas possibilidades. Sei que posso muito mais, sei que posso ser melhor. Esta é a minha busca. Sempre foi. Ser melhor hoje do que fui ontem, seja como for. Um grande passo para isto - a maturidade me ensinou - é olhar para si mesmo sem a máscara. Reconhecer suas próprias dificuldades, e não ter medo delas. Não tentar esconder. Antes, continuar estudando, perguntando, buscando, treinando, aperfeiçoando - a técnica, a teoria, as emoções, o lidar com o outro.
Uma grande ânsia de crescimento me invadiu. E a vontade de estudar.
Quando soube que Raqia Hassan e Soraia Zaied seriam bancas da categoria Improviso do festival LuminaQamar 2012, quis muito que elas me vissem dançar. Desejei suas avaliações para minha melhora. (Estas duas dispensam legenda, não é? Se você nunca ouviu falar delas, uma palavra para você: Google.)

Soraia foi minha professora há muitos anos atrás, quando ainda não morava no Egito. Acho que há uns 10 anos ela não me vê dançar - continua sem ver, pois não consegui chegar a tempo do concurso, seu vôo atrasou.

Quis aproveitar esta oportunidade para estudar. Assisti muitos vídeos, acabei com o meu pé de tanto estudar as 12 músicas que poderiam cair no concurso.
Rotina Oriental, Om Kalsoum e solo de Derbake. Estes eram os gêneros musicais de cada fase do concurso. Cada um pede da bailarina uma interpretação diferenciada. E dentre os solos de derbake, ainda mais: Um era bem egípcio e pedia um quadril forte e ágil, ou outro, a meu ver, não... em vez, achei que pedia movimentação de impacto, explorando diferentes possibilidades para as células rítmicas que se repetiam... Neste solo optei por ir além e explorar diversas possibilidades técnicas como cambrês, braços, idas ao chão e  - por quê não? - breaks de Tribal Fusion. Uma vez tendo mostrado na Rotina Oriental e na Om Kalsoum meu feeling egípcio, porque não explorar um solo com minha personalidade única? Isto é... SE eu chegasse à 3ª fase.. SE caísse este solo....

E então,  Madame Raqia estava lá. Com a difícil tarefa de julgar sozinha.
Eu não estou habituada a concursos, fiquei bastante nervosa. E sim, passei por todas as fases do concurso, chegando à final. Fiquei bastante satisfeita com meu próprio desempenho. Feliz porque os anos de estrada me conferiram presença e projeção ao público além das minhas colegas de palco. Porque senti atingir pessoas sentadas do outro lado e que eventualmente poderiam estar olhando as outras moças, deslocarem sua atenção pra mim, no momento em que a música jorrava sobre nós a poesia de Inta Omri... Porque mesmo imersa na interpretação da música, eu tinha o ritmo, tinha a melodia e porque estava inteira com as pessoas no público... porque lembrei do meu amor e dancei para ele os últimos versos da música. Porque senti os aplausos me iluminarem por dentro, como acontece sempre que me sinto cumprindo minha missão na vida.
Fiquei muito feliz com meu solo de derbake, com minha criatividade e capacidade de improviso. Joguei beijinho no Tak do solo, quando as meninas gritavam meu nome, após ter arriscado os breaks de Fusion. Eu me diverti. Eu me superei. Eu fiz o que quis. Eu não tive medo. Eu encontrei a minha arte de novo.
É muito gratificante receber o apoio das amigas na platéia. Sei que muita gente torceu por mim e o mais importante: Gostaram mesmo do que viram. Este é o essencial. De resto... eu estava no lucro.

Madame Raqia Hassan após o primeiro dia de aula
A moça que ficou com o primeiro lugar é uma graça! E é dona de quadris muito ágeis e graciosos, que seguramente encantaram Madame Raqia. Tive oportunidade de vê-la dançar em outras ocasiões, inclusive a partir da banca de jurados. Ela é doce e talentosa, com certeza merece as boas colocações que tira em todos os concursos que faz! Ainda não tive acesso às minhas notas, mas arrisco dizer que deve ter ganhado por pouco, rsrsrsrs.... o que faz da disputada qualquer coisa mais emocionante!

Eu, Soraia e minha mãe
Quando Adriana Almeida disse meu nome no 2 º lugar não fiquei surpresa. Porque não achei que tinha obrigação de ganhar. Concursos são surpreendentes. Por mais imparcial que tente ser o jurado, ele está ali, no fim, para dar a sua opinião. O não? E mais... Imparcialidade é tipo do negócio que não se pede à Raqia Hassan. Eu não fiz força para agrada-la. Antes, ao meu público brasileiro que é o que me contrata! E que gostou do que viu... E mais... Soraia me entregou o prêmio e eu estava muito feliz em vê-la e tudo o que queria era abraça-la...

Turma do workshop de Shaabi, no dia seguinte do show
Minha verdadeira premiação veio no dia seguinte, quando em frente à uma turma inteira de alunas de peso Raqia me apontou e disse que eu havia sido a única que havia realmente dançado Om Kalsoum com sentimento na noite anterior. Que fiz um grande trabalho de interpretação, da maneira como se faz no Egito. Disse isto repetindo o que havia dito, após o show, para a Soraia em árabe, que me traduziu.

Senti então que tudo valeu... lucrei muito com esta experiência, acho eu. Talvez se eu tivesse ficado em 1º, sairia com o gosto de que não fiz mais do que a obrigação. Nada na minha vida é óbvio ou veio fácil. Tudo é sempre intenso e emocionante. E sempre tem uma grande lição por detrás. Meu objetivo  maior é o progresso espiritual, então, acho que a vida só está me dando aquilo que pedi...

Laineh Alves está de parabéns! Luciana Midlej, Melinda James e Adriana Almeida também estão, por promover oportunidade tão gostosa de a gente se aprimorar e de contribuir decisivamente para o alto nível da dança do ventre no Rio de Janeiro!

Obrigada a todas que me abraçaram, apoiaram e que me têm em 1º lugar em seus corações!
Estou em paz.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Considerações iniciais sobre a Dança do ventre


Segue abaixo texto de minha autoria com algumas considerações voltadas para aquelas que estão começando a compreender a nossa dança. O texto é baseado em respostas a perguntas frequentes em sala de aula. Opiniões pessoais baseadas em pesquisa e experiência.

Introdução
Para compreendermos o que vemos quando assistimos a uma apresentação de Dança do Ventre, alguns aspectos devem ser levados em consideração:
O primeiro é que assistimos a uma apresentação artística, na qual a artista que a executa tem liberdade de criação, ao mesmo tempo em que utiliza informações técnicas adquiridas em contexto de aprendizado, seja este aprendizado em sala de aula ou em contato direto com a cultura árabe.
A segunda coisa relevante a ser levada em consideração é que se trata de algo que o público brasileiro não pode compreender em sua plenitude, mas apreciar e sentir com a sensibilidade artística comum a todos os seres humanos. Quando digo que não é possível ao público brasileiro compreender em sua plenitude, quero dizer que por tratar – se de algo referente à outra cultura, não temos referências, nem mesmo conhecimento, nem compreensão das letras das músicas, por isso torna – se difícil para nós. É o mesmo que pedir a um árabe que compreenda em sua plenitude uma apresentação de samba...
Daí o engano de muitos que acabam tratando a dança do ventre como “dança de acasalamento”, fruto da ignorância a respeito desta arte. Samba é ainda mais sensual, mas não se encontra fantasia de passista para vender em sex shop, não é?

De todo modo, qualquer forma de expressão corporal pode ser utilizada por aquela que possui este conhecimento e para qualquer fim. Basta que seu conhecimento seja utilizado com bom senso.
Para isto vamos usar duas formas diferentes de pensar a dança do ventre: A dança que se faz para público e a dança que se faz entre quatro paredes para seu amado. Teremos nestas duas situações posturas diferentes da bailarina. Não é possível se posicionar para o público da mesma forma como nos posicionamos de forma íntima para uma pessoa específica sem correr o risco de vulgarizar em excesso a apresentação.

Quanto ao aspecto sagrado da Dança do Ventre, pode – se dizer que, sem colocar em debate os inúmeros textos e argumentos escritos sobre o tema, na prática, este se manifesta de forma pessoal, trazendo à tona o sagrado feminino existente universalmente em todas as mulheres do mundo, mas que nada tem a ver com a aplicação direta da dança na cultura árabe. Cada uma faz de sua dança aquilo que bem quer e não é preciso ressaltar aspectos sagrados em apresentações, assim como não existe problema algum em realizar uma performance utilizando as técnicas de Dança do Ventre para trabalhar o sagrado feminino.

Deve – se dizer que na cultura árabe, a Dança do Ventre é vista como entretenimento e tradição. Encontramos show de dança na grande maioria dos casamentos árabes e neste ponto sim, encontramos alguma referência ritual, se pensarmos na cerimônia de casamento como ritual. E neste capítulo teremos referências à fertilidade e à sorte dos noivos.
No geral, os espetáculos de Dança do Ventre nos países árabes acontecem em locais variados desde hotéis luxuosos, até cabarés. O público árabe aprecia a dança, mas tem também muito preconceito com as bailarinas no geral, sendo geralmente as bailarinas árabes de origem muito humilde.
Com a valorização da dança pelos turistas ocidentais, muitas bailarinas estrangeiras passaram a serem contratadas para trabalhar no mundo árabe.

Performance x Apresentação tradicional

Para falar deste tema é muito importante entender que Dança do Ventre tradicional é dança solo. Qualquer número de grupo foge ao contexto tradicional e se enquadra como performance. Mesmo que utilizando música tradicional.
A performance é livre, pois a bailarina e coreógrafo não têm a obrigação de seguir estritamente o tradicional e podem inovar, utilizar novas técnicas, músicas e roupas diferentes, e ainda outros acessórios. Performance pode ser solo ou em grupo. Os acessórios fazem parte das apresentações com espada, punhal, fogo, serpente, taças, flores e mesmo o véu é considerado um elemento performático incluído nas apresentações tradicionais de dança do ventre.
Importante ressaltar que as performances, em sua maioria, foram introduzidas por ocidentais estudiosas da dança do ventre. É o caso de outro estilo de dança, o “Estilo Tribal”, que mistura elementos de diversas danças étnicas com técnicas de dança do ventre. (dança espanhola, cigana, hip hop, folclore árabe)

Outros acessórios utilizados e considerados tradicionais e folclóricos: bengala, bastão, snuj (címbalos), melea (véu negro), jarro.

Dança artística x Dança Popular – Dança do ventre x Baladi

Para compreender o estilo baladi e suas diferenças em relação à “Raks el Shark” (que conhecemos como Dança do Ventre), é preciso compreender o conceito entre dança popular e dança artística, pensada para o palco.
Para simplificar, diremos que a dança de palco teria a obrigação de buscar um refinamento que se adequasse às exigências de um público, modificando desde a maneira como a artista se coloca em cena até a escolha do figurino, que deve inovar e ser apropriado para a cena sob a luz dos spots.
A dança popular será em família, com amigos, em ambiente descontraído, uma festa, um evento popular, sem por isso exigir refinamento técnico de quem a pratica, sendo desenvolvida de forma espontânea e natural.
Note – se que de forma alguma isto significa que a dança popular seja de fácil execução ou aprendizado, mais sim, que é natural para aquele que pertence àquela cultura.
Podemos comparar ao nosso samba brasileiro, onde se difere o modo como sambamos em festas, do samba que é levado para o palco por passistas e dançarinos profissionais.

Vamos nos referir à Dança do Ventre como a dança artística, desenvolvida na virada do século XIX pra o XX e imortalizada para o mundo através do cinema.
Antes de tal evento, se alguma bailarina fosse inquirida sobre o nome da dança que praticava, diria: “Minha dança é a da minha região”, ou seja: “Baladi”.
Nesta época a dança Baladi foi leveda ao palco, onde sofreu alterações e fusões com outras danças como o Ballet, dando origem a Raks el Shark.
Claro que folclore e dança popular também sobem aos palcos. Sempre, no show das grandes bailarinas e nas apresentações de inúmeras companhias folclóricas. Porém com música, figurino e modo de agir que melhor retrate aquele contexto popular. Apesar das interferências coreográficas, a ideia é que predomine o sabor folclórico na apresentação.