segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A evolução da dança do ventre no Egito: Dos Cassinos aos dias atuais.


A pesquisa
Muitas pesquisas já forma realizadas sobre as origens da dança do ventre. Alguns pesquisadores encontram vestígios de danças sagradas e ligadas a ritos de fertilidade em civilizações muito antigas, em diversas partes do mundo. A maioria delas ligadas à culturas pagãs da antiguidade, como da Babilônia, Assíria, Egito faraônico, entre outras.
Nossa pesquisa vai se basear em documentos escritos, com descrições a respeito da dança por pessoas que presenciaram pessoalmente estas apresentações e se preocuparam em relata – las a outras pessoas. Muitos destes relatos começam a serem escritos em 1798, com a ocupação francesa no Egito, por Napoleão Bonaparte. Junto com os soldados de Napoleão, pesquisadores franceses entraram no Egito, interessados em aprender sobre sua cultura e sua riqueza. Muito se surpreenderam com a riqueza cultural e com sua dança tão exótica e livre.

No princípio era o Baladi
É preciso entender que a dança que conhecemos como dança do ventre é uma dança cênica, artística, de palco, que teve origem na tradição popular e na maneira popular de inserção profissional desta dança na sociedade egípcia. Raks baladi é a dança popular como o samba é a dança popular do Rio de Janeiro.





Descreveram os europeus dois tipos de dançarinas profissionais no final do século XVIII.
As “Awalin”, palavra que significa “alma”, eram mulheres de haréns (no sentido da parte feminina da casa árabe, não de concubina) especializadas em tocar, dançar, cantar e compor. Eram as únicas mulheres a quem era dado o direito de aprender a ler e escrever.
Estas mulheres eram de alta classe social e eram responsáveis pela organização das festividades femininas do casamento e eram freqüentemente contratadas para isso.
Existiam ainda “Awalin” de famílias menos abastadas. Contratadas para festividades mais humildes.





Existiam também as dançarinas de rua, chamadas de “Ghawazy”, palavra que é o plural de “ghazyia” que significa “dançarina”. Tratavam – se de clãs familiares, entre homens e mulheres, dedicados à arte popular, se apresentando nas ruas, “passando o chapéu” para arrecadar dinheiro. Não só as mulheres se apresentavam, como também os homens que tocavam e dançavam. Muitas apresentações de dança eram intercaladas com números circenses de equilibrismos e malabarismos.
As mulheres “ghawazy” são a imagem da origem da dança do ventre, tendo sido retratadas em muitos quadros, por diversos artistas no século XIX.

Por sua origem nômade e humilde, algumas destas mulheres acumulavam funções de prostitutas, e se aproximavam dos acampamentos franceses no início do século XIX, para cativar fregueses. Por isso Napoleão mandou matar mais de 400 “Ghawazy” e joga – las no Nilo.


Princess Rajaa - Apresentação em 1904


Kharya Maazin - Ghawazy na atualidade

2 - A Era de ouro da dança egípcia: Cassinos e Cinema
No final do século XIX e princípio do XX, temos no Egito uma grande revolução social, acompanhando a revolução industrial que movimentava todo o mundo ocidental. Neste período, o Egito foi social e economicamente dirigido pela Inglaterra, que levou para o Cairo muitos estrangeiros, investidores, arqueólogos e pesquisadores, além de inovações tecnológicas como a fotografia e o cinema.
Neste período, a cena cultural do Cairo muito se desenvolveu a exemplo de como era a própria cena cultural do Rio de Janeiro: Muitos cassinos e casas de espetáculos atraíam não só os estrangeiros, como os próprios egípcios negociantes e residentes na capital.

Tahya Karioka - cabaret

Neste contexto, surge a primeira das grandes estrelas do cinema egípcio: Badia Massabni, libanesa, cedo deixa o cinema para abrir o famoso Cassino Badia e também o Cassino Ópera do Cairo.
Este foi a mais importante casa dedicada a espetáculos no Cairo. Por ela passaram grandes estrelas do cinema como, Naima Akef, Tahya Karioca, Samya Gamal, e grandes músicos como Farid Al Atrche, Mohamed Abdel Wahad e Abdul Halim Hafez.
O Cassino foi palco também de diversas companhias ocidentais de dança, que influenciaram também o modo de dançar das egípcias.
Naima Akef - Dança Popular 

O cinema egípcio teve grande importância na divulgação da dança do ventre pelo mundo árabe e foi grandemente divulgada para o ocidente por Hollywood.
Muitas cenas de cinema retratavam o ambiente cultural do Cairo, com suas casas de show e festividades em praça pública. Muitas ainda mostravam cenas de dança em casamentos e também a dança em cenas de casais.
Samia Gamal - Grande espetáculo - Cassino

Tecnicamente, vale dizer que a dança sofreu grande transformação neste período. Deixando as casas e as ruas e se elevando ao palco, esta dança precisou também refinar – se e adquirir postura cênica. Novos movimentos foram incluídos na movimentação cênica, inspirados nos movimentos de ballet: o arabesque, a movimentação de braços e giros, que antes não eram executados, tendo no balady popular, a movimentação muito concentrada no quadril.
Samia Gamal - Cinema Estilo hollyoowdiano

Desde então, a dança segue seu caminho de evolução, rumo ao refinamento técnico e grandiosidade de espetáculo que podemos apreciar hoje em dia.
Vele a pena estudar e entender a trajetória desta arte no Egito e no mundo ocidental. 

3 - Mahmoud Reda  /  Farida Fahmy
Mahmoud Reda é um grande marco da história da dança cênica egípcia. Este grande coreógrafo foi ator e dançarino com grandes participações no cinema e na TV com sua "Reda Trupe" e a primeira bailarina Farida Mahmy.
Reda e Farida

Não há como falar da história da dança egípcia sem mencionar seu trabalho. Reda "reinventou" a dança popular egípcia, tendo feito pesquisa de movimento e contexto social em diversas áreas do Egito, trazendo ao teatro, cinema e TV muitas coreografias inspiradas na movimentação genuína das tradições populares egípcias, revelando ao próprio egípcio, e ao mundo, sua cultura e sua terra.
Vale dizer que Reda nunca abriu mão de seu próprio estilo, mesmo nas composições folclóricas. Suas coreografias estão recheadas de arabesques, giros, saltos e movimentações refinadas de braços e pernas, que mistura à movimentação típica de cada dança representada.



Foram inventados por ele alguns estilos de dança largamente executados como dança egípcia mundo afora: Melea Laff - representação da antiga mulher alexandrina ou do subúrbio do Cairo, que usava este item tradicional de vestimenta. Não existe uma dança do melea, mas sim a dança cênica que representa este personagem - A mulher egípcia que usa melea.



Mwuashahat - Reda trabalhou sobre um estilo de música muito antigo, mas muito vivo na tradição musical erudita do Egito. Criou muitas peças destinadas à TV e ao teatro. Com vasto vocabulário vindo do balé clássico, este estilo de dança influenciou o que vamos chamar de "Dança Oriental Clássica", reafirmando o papel do balé em uma dança egípcia refinada e de conceito artístico elevado. Pouco trabalho de quadril, muita dinâmica entre os bailarinos e coreografias elaboradas.



4 - Estrelas inesquecíveis
A partir da década de 70, a Dança Egípcia ganha estrelas cada vez mais importantes. Todas grandes dançarinas e estrelas do cinema.
Nagwa Fuad foi um marco como bailarina e produtora, pois inseriu a Dança nos hotéis 5 estrelas e inovou em termos de figurino, cenário e orquestram transformando o show de dança em espetáculo grandioso.
Nagwa - Rotina Oriental  - clip para TV

Nagwa e sua grande banda

Nagwa Fuad e Fifi Abdo no mesmo filme!
(Nagwa é a convidada ruiva e a Fifi a dançarina quase pelada!)

Fifi Abdo é a dona dos quadris mais poderosos da história da dança do ventre!!! Musa inspiradora, a verdadeira Ma'alimah encarnada, a rainha do baladi! Baladi = Fifi. Esta, decididamente não dançava dança oriental clássica. Estilo de dança altamente popular, até mesmo quando decide dançar um rotina oriental, seu estilo baladi é marcante.
Fifi dança rotina oriental

Fifi - Performance balady

Suheir Zaki, foi a mais doce das grandes estrlas das décadas de 70 e 80. Foi ela quem inseriu a interpretação dos grandes clássicos de Om Kalsoum  (Tarab) nos espetáculos de dança. Idolatrada até hoje, Suheir Zaki teve uma técnica muito tanto própria e marcante como suave e encantadora.

Suheir Zaki dança Leylet Hob

 Da década de 80 surgiu uma das maiores estrelas da dança egípcia ainda atuantes hoje em dia: A lenda viva Lucy - Herdeira da Era de Ouro e dona de seu próprio Cabaré no cairo - em seus vídeos podemos avaliar claramente a mudança que a dança egípcia toma com a globalização, internet e maior presença das bailarinas estrangeiras no Cairo.
Lucy - Antes

Lucy - Depois

Dina é com certeza o marco maior da dança do ventre egípcia atual - sinônimo de popularidade, riqueza e inovação. Seu estilo de dança é tão marcante quanto os figurinos que escolhe para usar. Ela mesmo pensa os figurinos, assim como coreografa suas músicas com rigor. Tudo nela é marketing e personalidade. Imitada pelas bailarinas do mundo inteiro, sua técnica é única e sua expressão muito apurada.






5 - Grande referência da atualidade, no Egito, Randa Kamel :



Com o crescente radicalismo do Islã dentro do Egito, cada vez menos egípcias dançam, abrindo mercado para as estrangeiras que buscam na terra da dança do ventre, seu caminho profissional. Algumas se tornam famosas e reconhecidas pelo próprio povo egípcio, como a caso de Soraia - Brasileira e Asmahan - Argentina. Muitas outras já trilharam este mesmo caminho como Sahra Saeda - inglesa e Nur - russa.

Soraia Zaied

6 - Os grandes festivais

Atualmente o Egito abre um novo campo de trabalho para aqueles que vivem de dança lá. A partir os anos 2000 milhares de dançarinas estrangeiras em busca de conhecimento e novas oportunidades de trabalho.
A pioneira, mais reconhecida professora, coreógrafa e produtora é Raqia Hassan, do festival Ahlan wa Sahlan. Multiplicam - se profissionais, coreógrafos e bailarinas descobertas neste festivais para o mundo.