segunda-feira, 7 de março de 2011

Sobre o Tribal e o Brasil - ponto de vista pouco analisado..

Surgido na década de 60, nos Estados Unidos, as primeiras idéias do Estilo Tribal foram desenhadas pela coreógrafa Jamila Salimpour, fundadora da Cia de dança Bal Anat, que após longa viagem pelo Oriente Médio e Norte da África uniu movimentos de danças folclóricas de países como Marrocos, Argélia, Líbia e Egito, formando um estilo único.
Sendo divulgado nas décadas de 70 e 80, algumas companhias de dança surgiram seguindo a mesma tendência. A mais significativa foi a Cia FatChance BellyDance, fundada por Carolena Nericcio, aluna de Masha Archer que foi integrante da Cia Bal Anat. Carolena integrou a Cia de dança de Masha -  San Francisco Classic Dance Troupe - baseada na Bal Anat , porém com várias mudanças estéticas e mais influências ocidentais. A linguagem da FatChance BellyDance incorporou elementos do flamenco e algumas referências da cultura indiana ao vocabulário gestual e aos figurinos do estilo. Carolena desenvolveu também aquilo que se tornaria a alma do Estilo Tribal: um método chamado “Improvisação Coordenada”, onde há uma técnica sistematizada para que as apresentações em grupos desenvolvam o espírito de tribo de modo que as componentes possam sempre improvisar juntas em harmonia de movimentos. Este estilo chama-se ATS (American Tribal Style), onde o processo de criação está atrelado ao improviso em grupo, mesclando elementos de um mesmo vocabulário e dinâmicas de grupo para resultar em performances vivas e espontâneas. A nomenclatura “Tribal” ganha conotação de tribo, grupo de pessoas unidas para realizar um processo de criação, unidas em um mesmo ideal.
Na década de 90, o conceito de fusão étnica transpôs as fronteiras do Oriente Médio e passou a incorporar elementos contemporâneos e até mesmo urbanos, nas criações de tribal. Fusão da técnica tribal com elementos de hip hop, street dance e break trouxeram nova roupagem ao estilo.
Esta nova tendência desconstrói o sistema ATS, retomando a possibilidade coreográfica completa e fundindo com novas idéias e movimentações. A modalidade “Tribal Fusion” retira da postura e do vocabulário ATS seu princípio e o transforma, acrescentando novas idéias e movimentações. Bases ocidentais com inspiração oriental traçam a ponte entre culturas em sinergia com o processo de globalização mundial.
A Cia de dança BellyDance SuperStars projetou o novo estilo para todo o mundo e também seu nome mais relevante: Rachel Brice, fundadora da Cia “The Indigo”, juntamente com outros dois grandes ícones do “Tribal Fusion”: Mardi Love e Zoe Jakes.
O Estilo Tribal, portanto, se forma a partir da possibilidade de fusão de diversas referencias culturais em um mesmo espaço corpóreo, revelando a possibilidade de manifestação da diversidade cultural em uma só linguagem.
Interseções são encontradas para que os estilos dialoguem dentro de uma harmonia estética de movimentação, figurino e música. Dentro deste conceito, um grande “leque de opções” se abre a frente de quem pensa artisticamente este processo. Pode-se destacar alguns elementos mais que outros para que se estabeleçam temas, como por exemplo: Fusão Afro, Fusão Indiana, Fusão Brasil, Fusão Contemporânea, Fusão Rock, Dark, entre outras temáticas já abordadas por criadores do estilo.
Neste processo de fusão as fronteiras culturais se dissolvem de modo que artista e público podem estabelecer um novo olhar sobre os elementos explorados, valorizando as culturas, aproximando as raças e valorizando o ser humano de forma integral.
O pensamento artístico que produz o Estilo Tribal traz como resultado um processo de inovação estética em dança, figurino e música. Novas concepções de estilo são desenvolvidas em função de valorizar os aspectos étnicos de cada peça coreográfica, definindo a linha de pesquisa de cada grupo musical, de cada coreógrafo, de cada atelier e companhias de dança.

O Estilo no Brasil
No Brasil, as pesquisas no estilo tiveram início na década de 2000. Shaide Halim, fundadora da Cia Halim de São Paulo foi a grande pioneira, trazendo dos Estados Unidos informações sobre ATS, postura tribal e fusão, traçando sua própria linha de pesquisa que chamou de Tribal Brasileiro, bastante influenciada por flamenco, dança indiana e afro. Em 2007 aconteceu o II Encontro Internacional Bele Fusco em São Caetano do Sul – SP. Este evento foi decisivo para o fomento do interesse em Tribal no Brasil, com a primeira vinda da americana Sharon Kihara, na época integrante da Cia Bellydance Superstars. Neste período já existiam iniciativas de estudo espalhadas pelo Brasil, como a Cia Lunay na Paraíba, Nanda Najla em Belo Horizonte, Cia Xamã no Rio Grande do Norte, entre outras.
No Rio de Janeiro, Jhade Sharif e Nadja el Balady, diretoras da Escola de Dança Asmahan, especializada em Dança do Ventre, e pioneira no ensino de Tribal no Rio de Janeiro, despertaram interesse em desenvolver essa pesquisa étnico-contemporânea e com isso, em parceria, criaram o primeiro festival no Brasil dedicado exclusivamente ao estilo Tribal: “Festival Tribal do Rio – Tribes Brasil”.
O festival foi um marco : profissionais de diversos estados brasileiros, estiveram na cidade do Rio de Janeiro nas edições 1, 2 e 3 em 2008, 2009 e 2010 respectivamente, trazendo suas criações, dando e fazendo aulas nas inúmeras oficinas dedicadas ao aprimoramento técnico das participantes do evento. Estiveram presentes representantes de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraíba e Rio Grande do Norte, assim como dançarinas de todo o estado do Rio de Janeiro. Em 2010 o festival contou com as profissionais internacionais Isabel de Lorenzo (Itália) e Geneva Bybee (USA) de ATS e Tribal Fusion.
Antes disso, em 2005, a Asmahan - Escola de Artes Orientais, fundada por Jhade Sharif, promoveu o primeiro workshop internacional de tribal com a bailarina germanica Nadine Fernadez, que colocou a semente para a pesquisa do ATS no Rio de Janeiro.
Desde então a qualidade do Estilo Tribal no Brasil cresceu muito. Podemos ainda destacar o festival “Tribal y Fusion” em 2009, do núcleo Bele Fusco, como momento de revelação de diversas companhias de dança e bailarinas que hoje são de grande relevo no cenário nacional.
No ano de 2009 nasceu no Rio de Janeiro a “Tribo Mozuna”, núcleo de bailarinas que se dedicam a estudar e praticar ATS e que funciona como verdadeiro pólo difusor do estilo no Brasil. A Tribo têm como principal referência a Cia FatChance BellyDance e orientação anual de Isabel de Lorenzo, credenciada como “Sister Studio” em Roma, Itália. A Tribo Mozuna mantém atividade constante, tendo levado o resultado de seus estudos a diversos festivais no Rio de Janeiro e outros estados.
Em 2010, também no Rio de Janeiro, nasceu a Cia de dança “Caballeras”, formada por bailarinas de Tribal do núcleo Asmahan. O espetáculo de dança e música “Tribal Gênese” marca o início da parceria da Cia de Dança Caballeras e a banda C.O.M. Fusion – Conspiração Oriente Metal Fusion, onde se busca explorar diferentes movimentações e texturas oriundas de diversas culturas aliadas à força do Rock e à estética oriental. A Cia de dança e a banda utilizam elementos musicais, coreográficos e de indumentária para flutuar entre esses distintos universos. Em 2011 um novo projeto de espetáculo se configura com a pesquisa voltada para a integração destas variadas influências na cultura brasileira.

Interessante apontar que três bailarinas cariocas, hoje integrantes da “Cia Caballeras” tiveram resultados significativos nas duas premiações promovidas pelo núcleo Belo Fusco em âmbito nacional nos anos de 2008 e 2009, sendo elas Carol Schavarosk (1º lugar nacional / 2008); Karine Xavier (2º lugar nacional / 2008) e Jhade Sharif (1º lugar nacional / 2009), tendo, esta última, representado a dança tribal do Brasil na Argentina em 2010.
Além dos trabalhos e artistas já citados, muitas outras companhias de dança, festivais e bailarinas vêm despontando no cenário tribal do Brasil. Mariana Quadros, Cibelle Souza, Paula Braz, Joline Andrade, Bia Vasconcelos, Bella Saffe, Rebeca Piñeiro, Rhada Naschpitz, Aline Muhana, entre tantas outras, são expoentes do estilo, que há anos vêm lutando para difundir o trabalho e a arte.

É preciso destacar a presença de Nanda Najla (MG) e Kilma Farias (PB) como artistas convidadas no festival “Spirit of the Tribes” em 2009 e 2010, na Flórida - EUA, como comprovação da qualidade e da originalidade do Tribal desenvolvido no Brasil.

Cias e grupos de dança como DSA, Kalua, Kairós, Lunay, Xamã, Damballah, Ulan Daban, Aquarius Tribal Fusion, além de festivais como Caravana Tribal Nordeste, Tribal Exterme, Campo das Tribos, entre outros, são iniciativas de qualidade que vêm contribuindo positivamente para a união e o desenvolvimento do estilo, criando uma cena forte, bela e unida, de incentivo e difusão.
Felizmente não é possível citar todos os nomes que fazem diferença na cena tribal do Brasil. Felizmente, porque são muitas. Isso prova que o estilo está em franca expansão, buscando suas próprias questões e encontrando em suas artistas soluções e caminhos. Vida longa ao Tribal, à criação, ao diálogo e ao respeito entre criadoras e criadores ligados pela paixão de concretizar no mundo sua arte.