Segue abaixo texto de minha autoria com algumas considerações voltadas para aquelas que estão começando a compreender a nossa dança. O texto é baseado em respostas a perguntas frequentes em sala de aula. Opiniões pessoais baseadas em pesquisa e experiência.
Introdução

O
primeiro é que assistimos a uma apresentação artística, na qual a artista que a
executa tem liberdade de criação, ao mesmo tempo em que utiliza informações
técnicas adquiridas em contexto de aprendizado, seja este aprendizado em sala
de aula ou em contato direto com a cultura árabe.
A
segunda coisa relevante a ser levada em consideração é que se trata de algo que
o público brasileiro não pode compreender em sua plenitude, mas apreciar e
sentir com a sensibilidade artística comum a todos os seres humanos. Quando
digo que não é possível ao público brasileiro compreender em sua plenitude,
quero dizer que por tratar – se de algo referente à outra cultura, não temos
referências, nem mesmo conhecimento, nem compreensão das letras das músicas,
por isso torna – se difícil para nós. É o mesmo que pedir a um árabe que
compreenda em sua plenitude uma apresentação de samba...
Daí
o engano de muitos que acabam tratando a dança do ventre como “dança de
acasalamento”, fruto da ignorância a respeito desta arte. Samba é ainda mais
sensual, mas não se encontra fantasia de passista para vender em sex shop, não
é?
De
todo modo, qualquer forma de expressão corporal pode ser utilizada por aquela que
possui este conhecimento e para qualquer fim. Basta que seu conhecimento seja
utilizado com bom senso.
Para
isto vamos usar duas formas diferentes de pensar a dança do ventre: A dança que
se faz para público e a dança que se faz entre quatro paredes para seu amado.
Teremos nestas duas situações posturas diferentes da bailarina. Não é possível
se posicionar para o público da mesma forma como nos posicionamos de forma
íntima para uma pessoa específica sem correr o risco de vulgarizar em excesso a
apresentação.
Quanto
ao aspecto sagrado da Dança do Ventre, pode – se dizer que, sem colocar em
debate os inúmeros textos e argumentos escritos sobre o tema, na prática, este
se manifesta de forma pessoal, trazendo à tona o sagrado feminino existente
universalmente em todas as mulheres do mundo, mas que nada tem a ver com a
aplicação direta da dança na cultura árabe. Cada uma faz de sua dança aquilo
que bem quer e não é preciso ressaltar aspectos sagrados em apresentações,
assim como não existe problema algum em realizar uma performance utilizando as
técnicas de Dança do Ventre para trabalhar o sagrado feminino.
Deve
– se dizer que na cultura árabe, a Dança do Ventre é vista como entretenimento
e tradição. Encontramos show de dança na grande maioria dos casamentos árabes e neste ponto sim, encontramos
alguma referência ritual, se pensarmos na cerimônia de casamento como ritual. E
neste capítulo teremos referências à fertilidade e à sorte dos noivos.
No
geral, os espetáculos de Dança do Ventre nos países árabes acontecem em locais
variados desde hotéis luxuosos, até cabarés. O público árabe aprecia a dança,
mas tem também muito preconceito com as bailarinas no geral, sendo geralmente
as bailarinas árabes de origem muito humilde.
Com
a valorização da dança pelos turistas ocidentais, muitas bailarinas
estrangeiras passaram a serem contratadas para trabalhar no mundo árabe.
Performance x Apresentação tradicional

A
performance é livre, pois a bailarina e coreógrafo não têm a obrigação de
seguir estritamente o tradicional e podem inovar, utilizar novas técnicas,
músicas e roupas diferentes, e ainda outros acessórios. Performance pode ser
solo ou em grupo. Os acessórios fazem parte das apresentações com espada,
punhal, fogo, serpente, taças, flores e mesmo o véu é considerado um elemento
performático incluído nas apresentações tradicionais de dança do ventre.
Importante
ressaltar que as performances, em sua maioria, foram introduzidas por
ocidentais estudiosas da dança do ventre. É o caso de outro estilo de dança, o “Estilo Tribal”, que mistura elementos
de diversas danças étnicas com técnicas de dança do ventre. (dança espanhola,
cigana, hip hop, folclore árabe)
Outros
acessórios utilizados e considerados tradicionais e folclóricos: bengala,
bastão, snuj (címbalos), melea (véu negro), jarro.
Dança artística x Dança Popular –
Dança do ventre x Baladi
Para
compreender o estilo baladi e suas diferenças em relação à “Raks el Shark” (que
conhecemos como Dança do Ventre), é preciso compreender o conceito entre dança
popular e dança artística, pensada para o palco.
Para
simplificar, diremos que a dança de palco teria a obrigação de buscar um
refinamento que se adequasse às exigências de um público, modificando desde a
maneira como a artista se coloca em cena até a escolha do figurino, que deve
inovar e ser apropriado para a cena sob a luz dos spots.
A
dança popular será em família, com amigos, em ambiente descontraído, uma festa,
um evento popular, sem por isso exigir refinamento técnico de quem a pratica,
sendo desenvolvida de forma espontânea e natural.
Note
– se que de forma alguma isto significa que a dança popular seja de fácil
execução ou aprendizado, mais sim, que é natural para aquele que pertence
àquela cultura.
Podemos
comparar ao nosso samba brasileiro, onde se difere o modo como sambamos em
festas, do samba que é levado para o palco por passistas e dançarinos
profissionais.
Vamos
nos referir à Dança do Ventre como a dança artística, desenvolvida na virada do
século XIX pra o XX e imortalizada para o mundo através do cinema.
Antes
de tal evento, se alguma bailarina fosse inquirida sobre o nome da dança que
praticava, diria: “Minha dança é a da minha região”, ou seja: “Baladi”.
Nesta
época a dança Baladi foi leveda ao palco, onde sofreu alterações e fusões com
outras danças como o Ballet, dando origem a Raks el Shark.
Claro
que folclore e dança popular também sobem aos palcos. Sempre, no show das
grandes bailarinas e nas apresentações de inúmeras companhias folclóricas.
Porém com música, figurino e modo de agir que melhor retrate aquele contexto
popular. Apesar das interferências coreográficas, a ideia é que predomine o
sabor folclórico na apresentação.
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